Faço de Cristo uma trincheira monumental por trás da qual eu me escondo. Nesse sentido, eu admito ser covarde. Covardia da qual em nada sinto remorso, pelo contrário, sonho ser perito nessa arte.
Desejo, não de forma impulsiva, mas proposital, e porque não dizer também com grande esforço, passar a maior parte do tempo escondido nEle. E eis aí a razão pela qual a maioria dos meus próprios amigos mal me conhecem. Na verdade, meus dias mais felizes são os dias em que nem minha família me descobre. E como eles ficam felizes também! Mas tem que ser cedinho. Assim que acordo preciso fazer dessa minha primeira tarefa: Vai! Corre para Cristo e se esconde! Oro para que ninguém me veja. Frequentemente eu fracasso. Sem as etiquetas de Drummond, eu realmente "tiro glória de minha anulação".
A razão para toda essa fuga é um tanto óbvia. Como disse Lispector, sou paupérrimo de alma. Mas nem sempre soube sê-lo. Orgulho é cegueira auto-imune. Experimentei ser "eu mesmo" por algum tempo para descobrir que as coisas que julguei interessantíssimas, eram uma pazinha de plástico e areia do quintal. Fazia morrinhos, e na minha cabeça julgava ter erguido os Jardins Suspensos de Nabucodonosor. Essa coisa de "eu mesmo" é puro besteirol! Coisa de moleque. Eu diria 'coitado' de uma pessoa assim, como eu, e digo: coitado!
Eu não sei explicar, e sempre me senti frustrado das vezes que tentei, mas essa confluência original que há no Filho de Deus, essa singularidade atômica de ser absorvido nEle, ao que chamei de forma pueril e ao mesmo tempo bíblica de me "esconder" (outros chamam de 'estar em comunhão'), miraculosamente me habilita a abrigar nesse meu corpo finito - massa compacta de células em setenta quilos - a assombrosa complexidade de toda a realidade que está fora de mim. Estar com Cristo, pode ser dito uma experiência em variadas dimensões. Minha alma antes vergonhosamente pobre, passa a possuir vasto conteúdo com Ele. Meu corpo vira casca que abriga o infinito. Minha presença fétida e orgulhosamente desagradável, torna-se mansa e serena; pacífica a quem de Nós agora se achega. Uma atmosfera diferente nos envolve. Fico tentado a não desejar conhecer o resto do universo se puder conhecer melhor o Filho de Deus - como Ele é imenso! Não é de se estranhar que João, o profeta do deserto, desejasse diminuir para que Ele crescesse - isso é glória em autoanulação. Ou que Paulo afirmasse ser a morte um lucro se com isso ganhasse a vida que há em Cristo. Ele mesmo comparou as glórias humanas com esterco, tamanha a imensidão do Filho de Deus, "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência"! (Cf. Filipenses 3:8; Colossenses 2:3)
Certa feita vi num filme trágico a morte de um garoto que chegou a essa conclusão pouco antes de sucumbir: "happiness is only real when shared" (felicidade só é real quando compartilhada) - pôs num caderninho e morreu. Quanta verdade há nisso para os que se escondem em Jesus, aquele Carpinteiro de Nazaré a quem foi dito ser "o mistério de Deus" (Colossenses 2:2). Unido com Cristo me torno infinito.
Se meus cálculos estiverem corretos, tudo está em Cristo. Está tudo oculto nEle.
quantas verdades em um único texto......como lutei em assumir esse tipo de ideia....e ao lê-lo agora, criei coragem em assumir que os dias mais felizes são aqueles em que não sou descoberta.
ResponderExcluirQue o Senhor abençoe seu relacionamento com Ele por meio de Cristo, Roseli! Obrigado por trazer um pouco da sua experiência.
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