Mateus 18 inicia coma a continuação da perícope sobre escândalos do capítulo 17, onde Jesus especifica sobre as terríveis condenações de quem escandaliza, especialmente, as crianças.
No entanto, desse capítulo, o que mais me prende a atenção está na parábola do credor incompassivo (v. 23-35). Cristo deseja reforçar o que fora respondido a Pedro quando perguntou-lhe até quantas vezes devemos perdoar a quem falhe conosco de alguma maneira. Mais do que uma simples ilustração, é o parâmetro que Jesus utiliza para o perdão nessa parábola que nos choca.
Ele representa a Deus como um rei a quem um dado servo lhe devia dez mil talentos. Uma conversão bíblica direta desse valor é usualmente feita em quilos de prata, o que nos daria o equivalente a 215 toneladas. Em contrapartida, esse mesmo servo tinha alguém que lhe devia cem denários, equivalente em prata a 400 gramas. A comparação que Cristo faz é astronômica.
Para termos uma noção mais precisa dos valores atribuídos por Jesus, podemos converter esses valores em denários, tendo em vista que um denário, era o salário da época para um dia de trabalho. Assim, sabemos que o homem que devia ao servo do rei tinha um débito com ele de cem dias de trabalho. De fato, uma dívida grande, mas com claras possibilidades de ser quitada em pouco mais de três meses.
Já o servo da parábola, devia com dez mil talentos, algo como 126 milhões de denários. Numa conversão direta, seriam 126 milhões de dias de trabalho, ou 345 mil e 206 anos de trabalho. Absurda, não? Mas é isso mesmo! Para pagar sua dívida, ele precisaria de quase 346 mil anos de trabalho em dias ininterruptos, sem férias, finais de semana nem dias de feriado. Esse montante seria o equivalente a 10 mil funcionários trabalhando por 18 anos.¹
Uma das coisas que me vieram a mente quando li essa parábola pela primeira vez foi: Como esse 'cara' contraiu toda essa dívida? A explicação é direta: Essa dívida é minha. Jesus deseja nos dar um páreo vislumbre da dívida astronômica que contraímos com Deus por meio do pecado. Impossível de ser paga.
Cristo nos afirma por meio dessa parábola, que o fato de termos sido perdoados por Deus, nos implica não apenas um privilégio, mas a direta obrigação de perdoarmos aqueles que pecam contra nós. Ele demonstra a covardia de não aceitarmos esse princípio, quando o servo do rei pede para não ser preso, nem ter sua família vendida, afirmando que se for solto, pagaria tudo o que devia.
Jesus diz então que "O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir." Obviamente porque sabia que ele jamais poderia pagar 346 mil anos de trabalho, e nem mesmo vendendo todos os seus bens e a família dele, chegaria perto de sanar essa dívida.
A palavra chave dessa parábola é compaixão. Quando o servo devedor encontrou seu conservo que lhe devia 400 gramas de prata, "agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’". É com essa cena medíocre, de plena ignorância, avareza, e infantilidade que Jesus representa aquelas pessoas incapazes de perdoar. Deus entregou o valor incalculável da vida do seu filho para pagar uma dívida que nós contraímos. É portanto nossa obrigação perdoar as 400 gramas de nossos irmãos. Por maior que possam parecer as falhas das pessoas que te magoaram, comparadas ao que Cristo fez por você, elas não significam nada.
Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir que Deus perdoasse nossas dívidas "da mesma maneira como temos perdoado a nossos devedores", e conclui dizendo "se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês". (Veja Mateus 6:12,14,15).
[1] - Comentário Bíblico Adventista, Volume 5.
Nenhum comentário:
Postar um comentário