Começou aquela garoa fininha. As mulheres recolhiam suas cangas da areia; algumas davam gritinhos e corriam. Os homens retiravam suas crianças da água e fugiam. Todos saíram da praia quando os respingos começaram a cair. Ignorei-os e permaneci ali sentado; não havia açúcar em minha pele e eu nunca fiz uso de cigarro. Agora, estávamos apenas eu e o gigante cinza-azul do mar. O céu antes anil, enfureceu-se, condensou e enegreceu de raiva contra minha petulância de permanecer ali para contemplá-lo.
Eles não presenciaram o que veio a seguir. O medo irracional do inofensivo lhes privou do privilégio que minhas retinas contemplaram. Pois a um dado momento, o sol furou as nuvens em vários pontos projetando-se no mar, e então, cada gota da chuva que caía abrigou em si uma miniatura do astro em chama; cada pingo transmudou-se em lava incandescente precipitando-se do ar. Espetáculo! Erupção nas nuvens; fogo chovia dos céus e me refrescava. Todo o mar era ouro derretido. Laranja, ouro, fogo! Naquele dia eu fui lavado com fogo. Abri a boca para o céu e bebia lava, e engolia fogo. E todos os covardes que almejavam, sem esforço, pela luz do sol, perderam o privilégio de serem banhados de forma líquida por ele.
Aprenda esta lição, caro leitor: os que fojem ao menor respingo da tempestade perdem o privilégio de se banharem com o sol especial que ela esconde. Ao invés de impedi-lo, são as próprias densas nuvens que se transformam no prisma natural através do qual ele irá se revelar.
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