sábado, 3 de agosto de 2013

O Limite de Deus

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda". [Cecília Meireles]

Concordo com Cecília. Apesar de crer que ninguém entenda perfeitamente.

Esta é a terceira reflexão que escrevo relacionando livre-arbítrio, amor e sacrifício. Não sei explicar bem por que esse tema tem sido recorrente, mas me parece fazer cada vez mais sentido. Mas vou tentar aqui, raciocinar um pouco mais sobre isso, até o ponto de pensar no conceito de liberdade para Deus. Antes, gostaria de pedir que você não tomasse uma posição defensiva, se o título desse post parecer-lhe de alguma maneira anti-bíblico. É justamente o contrário, como espero que você entenda.

Pense comigo: dotados de livre-arbítrio, os seres livres devem submeter voluntariamente sua liberdade ante a liberdade de outros seus igualmente livres, para que todos possam coexistir e ainda assim serem independentes, livres. Quando um maluco comete o absurdo de um estupro, fica evidente o porquê de limitarmos nossa liberdade até um certo ponto. Usando sua liberdade, ele roubou esse mesmo direito de sua vítima. Então, perceba que é preciso, de certa forma, limitar a liberdade individual para que haja a liberdade individual para todos os entes que compõem o conjunto. Em outras palavras, a única forma de manter a liberdade de todo o grupo, é limitar a liberdade individual de todos do grupo. Como dizem: "Sua liberdade termina quando a do outro começa".


Os princípios que regem essa harmoniosa coexistência, os limites da liberdade individual e o respeito a liberdade de todos os demais, foram expressamente delineadas por Deus através de Dez Princípios, conhecidos como mandamentos, que formam A Uma Lei (Êxodo 20), espelho de Seu caráter. Este é o objetivo da Lei, garantir a liberdade de todos por limitar a liberdade de cada um. Todos devem se sacrificar pela coexistência em grupo. Tiago chegou a chamar essa Lei de "lei da liberdade" (Tg. 2:12). Assim, ou há limites para a liberdade individual a fim de que todos permaneçam livres, ou apenas um deve possuir ilimitada liberdade pela extinção da de todos os outros.

Agora, chego a um ponto crucial (que palavra hein! Crucial!): Deus não quer ser só! Mas para coexistir com outros seres livres, mesmo que criados por Ele, Ele precisou limitar-se, sacrificar voluntariamente sua própria ilimitada liberdade. É por isso que amor e sacrifício estão sempre tão estreitamente ligados! Não é possível unir-se a alguém ferindo sua liberdade. Ambos devem limitar-se pela liberdade do outro.

Como é assombroso e complexo esse poder do qual Deus dotou aqueles a quem Ele chama de filhos! Veja que grandioso! De alguma forma, dando liberdade a outros, Deus limitou voluntariamente a Si próprio para garantir a liberdade deles. Ele mesmo precisou se submeter voluntariamente a Sua Lei para coexistir com Suas Criaturas. Como é espantoso o amor de Deus, em que a nossa liberdade, é o limite para a Deus!

Ele não só poderia, como tem todo o poder de obrigar todas as suas criaturas ao arrependimento e salvação, mas não o faz para respeitar o único e verdadeiro poder que com sacrifício próprio lhes dotou: Livre-arbítrio. Cristo sacrificou-se para garantir a sua liberdade, com a extensão de que podemos usar essa liberdade comprada por Ele, até mesmo para negá-Lo. Esse é o cúmulo da abnegação: Morrer por alguém que irá negá-Lo para garantir-lhe esse mesmo direito. Assombroso!



Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor [em outras palavras: sacrifique sua liberdade pelos outros].

Toda a lei se resume num só mandamento: "Ame o seu próximo como a si mesmo".
Gálatas 5:13-14


Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!
Filipenses 2:5-8

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Radical

Se você quiser ser útil às pessoas, no sentido de amá-las, vai precisar se acostumar à rejeição e ao auto-sacrifício sem reconhecimento. E ainda sendo rejeitado, amá-las do mesmo jeito e talvez ainda mais. Isso tudo de forma abnegada, sem esperar coisa alguma em troca. Parece radical, e é. As coisas reais são assim, radicais. Amor é uma coisa real. E como é radical também!

Mas não confunda radical com fanático. "Radical",  é uma palavra  que vem do latim radicalIS, “relativo à raiz”, de RADIX, “raiz” [1]. Ou seja, estamos falando do que vai ao cerne, o âmago, a raiz da coisa toda! Anote aí: A raiz do amor se chama sacrifício.
Amor e sacrifício são tão idênticos, tão proporcionais, tão simétricos entre si, que eu sinceramente não sei dizer qual seria a diferença entre eles. A razão pela qual as pessoas sacrificam os outros por si, para o seu benefício, mas não a si mesmos pelos outros, é que elas amam mais a si do que amam os outros. Entende agora?

Essas semelhanças com sacrifício exigem maturidade para entender que amor não é uma troca. É um verbo intransitivo, não exige complemento. Como diria Drummond, amor é "doação ilimitada a uma completa ingratidão".

A recompensa pelo ato de bondade, pelo amor doado, é a própria doação em si e ponto final. A expectativa de receber algo em troca, anula o princípio mais elementar da substância pela qual o amor é composto. O desejo de receber algo em troca, revela que o ato de doação em si tinha em vista o benefício do próprio eu, e não do objeto amado.

Jesus mostrou que ser genuinamente bom, requer abnegação, negação do próprio eu. Ninguém melhor que  Ele, ninguém maior que Ele demonstrou esse princípio que defendo aqui.

Lembra da Cruz? Agora reflita se amor não é sacrifício voluntário e abnegado.


Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida (se sacrifica) pelos seus amigos.

[Jesus, em João 15:13]
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