quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Minha Trincheira Monumental

Faço de Cristo uma trincheira monumental por trás da qual eu me escondo. Nesse sentido, eu admito ser covarde. Covardia da qual em nada sinto remorso, pelo contrário, sonho ser perito nessa arte.

Desejo, não de forma impulsiva, mas proposital, e porque não dizer também com grande esforço, passar a maior parte do tempo escondido nEle. E eis aí a razão pela qual a maioria dos meus próprios amigos mal me conhecem. Na verdade, meus dias mais felizes são os dias em que nem minha família me descobre. E como eles ficam felizes também! Mas tem que ser cedinho. Assim que acordo preciso fazer dessa minha primeira tarefa: Vai! Corre para Cristo e se esconde! Oro para que ninguém me veja. Frequentemente eu fracasso. Sem as etiquetas de Drummond, eu realmente "tiro glória de minha anulação".

A razão para toda essa fuga é um tanto óbvia. Como disse Lispector, sou paupérrimo de alma. Mas nem sempre soube sê-lo. Orgulho é cegueira auto-imune. Experimentei ser "eu mesmo" por algum tempo para descobrir que as coisas que julguei interessantíssimas, eram uma pazinha de plástico e areia do quintal. Fazia morrinhos, e na minha cabeça julgava ter erguido os Jardins Suspensos de Nabucodonosor. Essa coisa de "eu mesmo" é puro besteirol! Coisa de moleque. Eu diria 'coitado' de uma pessoa assim, como eu, e digo: coitado!

Eu não sei explicar, e sempre me senti frustrado das vezes que tentei, mas essa confluência original que há no Filho de Deus, essa singularidade atômica de ser absorvido nEle, ao que chamei de forma pueril e ao mesmo tempo bíblica de me "esconder" (outros chamam de 'estar em comunhão'), miraculosamente me habilita a abrigar nesse meu corpo finito - massa compacta de células em setenta quilos - a assombrosa complexidade de toda a realidade que está fora de mim. Estar com Cristo, pode ser dito uma experiência em variadas dimensões. Minha alma antes vergonhosamente pobre, passa a possuir vasto conteúdo com Ele. Meu corpo vira casca que abriga o infinito. Minha presença fétida e orgulhosamente desagradável, torna-se mansa e serena; pacífica a quem de Nós agora se achega. Uma atmosfera diferente nos envolve. Fico tentado a não desejar conhecer o resto do universo se puder conhecer melhor o Filho de Deus - como Ele é imenso! Não é de se estranhar que João, o profeta do deserto, desejasse diminuir para que Ele crescesse - isso é glória em autoanulação. Ou que Paulo afirmasse ser a morte um lucro se com isso ganhasse a vida que há em Cristo. Ele mesmo comparou as glórias humanas com esterco, tamanha a imensidão do Filho de Deus, "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência"! (Cf. Filipenses 3:8; Colossenses 2:3)

Certa feita vi num filme trágico a morte de um garoto que chegou a essa conclusão pouco antes de sucumbir: "happiness is only real when shared" (felicidade só é real quando compartilhada) - pôs num caderninho e morreu. Quanta verdade há nisso para os que se escondem em Jesus, aquele Carpinteiro de Nazaré a quem foi dito ser "o mistério de Deus" (Colossenses 2:2). Unido com Cristo me torno infinito.

Se meus cálculos estiverem corretos, tudo está em Cristo. Está tudo oculto nEle.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Resenha - Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis

Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis
(★★★★★)


Repetidamente recomendada, inconscientemente citada, essa é para mim, a obra mais relevante de C. S. Lewis. Não sei ao certo porque não escrevi sobre ela antes, mas há tempo para tudo debaixo do sol. Esse livro teve e ainda tem muita importância para mim na maneira como hoje raciocínio a realidade por meio da fé.

Escrita no contexto da segunda gerra mundial, foi elaborada para ser transmitida via rádio a convite da BBC e depois convertida no volume como a conhecemos. Cristianismo Puro e Simples é com certeza uma das obras mais impactantes de um dos pensadores mais brilhantes do cristianismo que atravessou o mundo moderno e chegou a pós-modernidade sem perder em nada da sua relevância. À medida que o raciocínio e a decadência da moral humana avançam, Cristianismo Puro e Simples adquire fluorescência aos ateus questionadores sinceros, acredito que também especialmente aos agnósticos, e fortalece a fé dos cristãos que desejam ter um raciocínio mais consolidado. É um livro de apologética com linguagem acessível a todos os interessados.

Aviso: Os que leram as Crônicas de Narnia, mas não conhecem essa obra, não conhecem também o teor sólido por trás das Crônicas.

Lewis apresenta o cristianismo como o título do livro se propõe a fazer: de forma pura e simples. Sem tomar partido para qualquer denominação religiosa, ou fazer defesas de doutrinas particulares, de forma clara, concisa e brilhante, Lewis aborda os temas mais basilares da religião cristã; a começar pela própria defesa da existência de Deus como uma mente consciente e agente formulador da distinção entre certo e errado, por meio do que os teólogos chamam de "o Argumento Moral".

Enquanto lia, me sentia transportado pela argumentação bastante sincera de Lewis, que antes fora ateu convicto, e agora, rendido à necessidade de admitir a existência do Criador que se revelou por meio de Jesus, explica como sua mente apreendeu a realidade tal como o cristianismo a pode revelar a um ser pensante.

A obra é recheada de citações que circulam hoje pela internet. Além da existência de Deus, aborda também a moralidade cristã, a natureza divina, o pecado e sua fonte original na natureza humana, entre outros temas muitíssimo interessantes.

Destaco o capítulo que posso dizer ter marcado minha consciência como ser humano: "O Grande Pecado". Estava no ônibus enquanto lia. Se você estivesse lá para me observar, veria alguns sorrisos, e depois espantos, e algumas pausas para oração. "Meu Deus, eu sou terrível!", vinha à minha mente. "Meu Deus, esse sou eu". Foi uma experiência inesquecível da qual compartilho até hoje com meus amigos, de tão edificante que me foi entender a raiz de todas as minhas corrupções: o orgulho. De vez em quando você me verá falando ou escrevendo sobre ele, simplesmente porque para Lewis, todo pecado é orgulho manifestado em alguma de suas vertentes. Se você entender isso, vai entender também como orar de forma mais específica, e lutar pela transformação do seu caráter para ser mais semelhante a Cristo. Só por esse capítulo, para mim, a obra toda valeria à pena.

Depois de lê-lo, você deve obter uma visão muito mais ampla da vida cristã; um raciocínio mais mais claro para ter certeza do porquê o cristianismo faz mesmo todo o sentido, e terá argumentos muito mais sinceros para manter sua fé em Cristo. Outro benefício para mim, foi ter sido ajudado quanto ao preconceito com outros cristãos que pensam diferente de mim. Acho que esse livro me ajudou a procurar ouvir melhor, me colocar no lugar do outro pensante e tentar entender o porquê essa pessoa raciocina dessa forma.

Considero uma ótima dica de presente a amigos questionadores, descrentes ou curiosos. Pode render conversas muito mais profundas, apesar de não entrar em méritos doutrinários evitando esse tipo de conflito. Cristianismo Puro e Simples, porque vale à pena entender melhor os conceitos que fundamentam sua fé (ou a falta dela).

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Elas São como Você

É importante ser tolerante, compassivo e misericordioso com as pessoas com as quais entramos em contato. Todas estão travando batalhas silenciosas das quais você não possui a menor ideia.

Seu chefe duro e exigente está a ponto de enlouquecer por causa do casamento frustrado que está quase no fim e tem medo de perder os filhos para a mulher que o traiu. O médico que lhe distratou tem uma filha em estado vegetativo e se sente pequeno, frágil e impotente por não saber mais como ajudá-la ou prolongar a sua vida. Seu professor incompreensivo e que lhe faz constantes ameaças humilhantes, luta contra uma depressão severa depois que perdeu a mãe pro câncer há dois anos - todas as noites toma remédios fortes para conseguir dormir. Seu colega de trabalho chato, esnobe e trapaceiro, tem problemas de auto-estima por ter sido abusado sexualmente pelo tio na infância.

E eu poderia ilustrar uma infinidade de casos semelhantes que, concordo, não justificam em todas as situações as ações dessas pessoas, mas você deve concordar comigo que explicam muita coisa.

Uma outra razão para sermos mais tolerantes, compassivos e misericordiosos com elas, é que, na verdade, nós somos como elas, apenas com circunstâncias e endereços diferentes; mas estamos todos em lutas por aqui - não se torne mais um oponente para alguém que está quase sem forças. Olhe ao seu redor, amigo! São todos soldados feridos; são todos guerreiros disfarçados. Olhe ao seu redor, mas olhe atentamente. Um grito raivoso, pode ser um grito de socorro; um olhar rancoroso, pode ser de dor; uma palavra dura, pode ser um desabafo incontido.

É por isso que eu lhe peço: tenha mais paciência com as pessoas, elas são como você. Elas também sangram.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Amor em Carne e Osso

O amor. Faz um tempo que amor resolveu que precisava se materializar para ser aceito pelas pessoas. Ele então, que sempre fora abstrato, vestiu-se de carne; pôs ossos que sustentassem os músculos, cobriu-se de pele e pôs unhas, pêlos e cabelos. Ficou idêntico a nós. Você não veria distinção material nesse agente disfarçado. E certo dia de manhã, o amor nasceu humano. Agora o amor tinha mãos e pernas, andou entre nós e nos tocou. Muitos logo se alegraram com ele. Agora tão concreto, visível, tocável e, assim, tão amável. Mas as pessoas não gostaram quando o amor exigiu reciprocidade. Porque você sabe: o amor é exigente no quesito compromisso. Puxa, foi horrível. Mas as pessoas puxaram o amor pelos cabelos e bateram muito nele. O amor apanhava na cara. Foi humilhado. Foi acusado. Cuspiram nele. Traíram o amor. Mas as pessoas ataram suas mãos até que o penduraram numa Cruz. O amor sofreu, chorou, amou e por fim morreu de amor. Mataram o amor, menininha. Mas você sabe, o amor não morre; se transforma e amadurece. Morrer era parte do plano, você sabe. Agora eu também o amo, e descobri que sem sacrifício não há amor, querida. E é por isso que hoje eu morro um pouquinho por você; abdico alguns gostos, renego idiossincrasias e pessoalidades, cuspo fora meus egoísmos. Hoje eu morro um pouquinho por você, só pra dizer que eu também lhe amo porque Ele me amou primeiro.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Plantio de Novelas e Romance de Batatas

Seja uma pessoa crítica, mas não uma pessoa crítica demais. As pessoas críticas demais são duras de se conviver e uma companhia do tipo mais desagradável, mesmo quando têm razão. Digo isso porque, na vida, há coisas mais importantes do que sempre ter razão e encontrar as falhas de todas as coisas. Observe a solidão delas e comprove. Se por um lado o senso crítico é uma potente ferramenta contra a alienação, por outro, o criticismo é alienador de quem o possui, ou melhor dizendo, de quem é possuído por ele.

É fenômeno comum de que as pessoas críticas demais são sempre críticas com relação aos outros, mas nunca sobre si mesmas. E é justamente por isso que são as mais alienadas. O senso crítico genuíno tem por natureza intrínseca ser crítico sobre aquilo que mais estamos familiarizados, e ninguém está mais familiarizado com outra coisa senão consigo mesmo. O escritor de romances será respeitado ao comentar a novela das oito, mas deve reconhecer sua ignorância sobre o plantio de batatas. Que o romancista critique novelas, e o agricultor analise batatas. Numa inversão de papéis, teríamos uma plantação de novelas e um romance sobre batatas? Ora, você convive consigo durante todo o tempo de sua existência, e deveria, portanto, ser o melhor e mais perito crítico sobre si mesmo no mundo. É por isso que ser crítico lhe conduz a humildade e ao desejo de ajudar os que são como você. Mas as pessoas críticas demais são especialistas em apontar as falhas dos outros, justamente por serem alienadas de si mesmas, e isso pelo forte criticismo que as possui. As pessoas críticas demais são vampíricas, não possuem reflexo. Em certo sentido elas não podem se ver, nem ao menos se conhecem. Querem que romances sobre batatas façam sucesso, alcancem altos índices de audiência. Coisa ridícula, eu sei. É ridículo ser crítico demais.


Seja uma pessoa crítica, especialista sobre os próprios defeitos, mas não uma pessoa crítica demais. Pessoas críticas demais são tão interessantes e realistas quanto romances sobre batatas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Órfão

Deus tinha um filho legítimo, mas deixou que ele morresse para poder adotar um outro que era órfão. Foi uma situação complicada. Não era possível ter os dois ao mesmo tempo da mesma maneira. Ainda não entendi perfeitamente por que Ele fez isso ou como tudo se deu. Mas descobri, não faz muito tempo, que o filho era Cristo, e o órfão era eu.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Bob Marley, Problemas e Jesus Cristo

Às vezes a gente entende coisas bem significativas para a vida de maneiras inesperadas. Eu, por exemplo, nunca gostei de reggae, e de fato, continuo não gostando (respeito a quem, por acaso, lhe apeteça), mas ainda no ano passado, em meio às preocupações e correrias da vida, eu estava em extremo preocupado com o andamento de alguns objetivos acadêmicos e acabei aprendendo uma lição cristã bem importante com Bob Marley.

Acontece que uma de suas músicas fez parte de um filme de animação, desses feitos pra família. Um ratinho está tendo um dia péssimo depois de ter sofrido descarga, e flutuando no esgoto, meio sem direção, quando quatro lesmas passam cantando num lampião a boiar por dezessete segundos: "Don't worry, be happy" (em inglês: 'não se preocupe, seja feliz'). Reconheço que deve ser difícil ser feliz e não se preocupar quando você sofre descarga e fica perdido no esgoto. Mas pra encurtar a história, meu irmão me indicou uma outra música parecida do mesmo autor que em certa parte da letra, reafirma algo que Jesus já havia dito, mas que me ajudou a entendê-lo sobre uma perspectiva diferente. No meio daquele esgoto de preocupações, o que Cristo ensinou fez então todo o sentido para mim. Jesus apontou à vida despreocupada dos passarinhos que não sabem sequer se terão o que comer, e ensinava que é um desperdício de energia se preocupar quando temos problemas. Parece absurdo, mas é isso que Cristo ensina para quem deixa sua vida nas mãos de Deus. Simplesmente, "não ande preocupado, Deus sabe do que você precisa", Ele disse.

Falando de três passarinhos (Jesus usou a mesma figura para falar do mesmo assunto, hehe), Bob diz que três passarinhos vieram pela sua porta para lhe trazer uma mensagem. E em certa parte eles cantam algo como: "Se você tem um problema, preocupar-se faz dele o dobro". Haha! E não é verdade?! O problema em si é, de fato, um problema. Mas quando me preocupo com ele, a preocupação, ao invés de me ajudar com o problema, acaba se tornando ela mesma um outro problema para mim. Antes eu tinha um problema; agora, além do problema, também tenho uma preocupação. Então, deixa a sua vida nas mãos de Deus e aprende aí: "se você tem um problema, preocupar-se faz dele o dobro".

Agora que você leu isso tudo até o final, olha só que bacana sobre o Bob: http://noticias.gospelprime.com.br/bob-marley-aceitou-jesus-e-foi-batizado-sete-meses-antes-de-morrer/ :)

E se você quiser ver o trechinho do filme que falei, é esse aqui: https://www.youtube.com/watch?v=MA1h6J0YzqA

Obs.: Não tenho a intenção de incentivar ninguém a ouvir reggae ou gostar do Bob Marley, mas respeito a quem, diferente de mim, goste.
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Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? [...] o Pai celestial sabe que vocês precisam de todas essas coisa. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".

(Jesus Cristo, em Mateus 6:26,27,32-34)

Amigos? Quatro ou Cinco

No Facebook você pode ter até 5 mil amigos, que é o limite permitido para um perfil pessoal. Mas na realidade, só precisamos de 4 ou 5 que sejam íntimos e vistos com frequência, que riam das suas asneiras com você e não contra você, com quem você pode falhar sempre e sempre ser abraçado, que não usem seus erros como um dossiê sobre o seu passado e que seus filhos possam chamar de tio ou tia, e viajar com eles. Cinco mil fotos bem selecionadas, com as melhores maquiagens e óculos importados, não valem o par de havaianas bem surradas de um dos seus quatro ou cinco amigos verdadeiros na porta da sua casa. Dê valor a esses desajuizados que te aceitam na vida deles sem nenhum motivo racional pra isso, a não ser essa coisa velha e gostosa de celebrar que é a amizade.
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Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos. (Mario Quintana)

Ser Manso, Ser Macho

Tenho pra mim que dentre os atributos que estão no topo da masculinidade, a mansidão tem preeminência. Soa antagônico, mas ser manso é ser macho. Ora, todo mundo se aproxima sem receios do coelhinho e do cordeiro, mas é a dois ou três passos do pitbull que elas perguntam: "ele é manso?". É esse contraste entre força e domínio que revela poder. Em outras palavras, quando as pessoas fazem essa pergunta: "ele é manso?"; elas querem na verdade saber se o ser que detém aquelas mandíbulas com uma tonelada de potência de compressão maxilar possui autodomínio suficiente para permitir-se uma aproximação amistosa para receber e dar carinho sem amputar-lhes um braço ou uma perna, a despeito de tanto poder que possui. Note que qualquer jumento dá coice, mas só um macho tem peito pra domar seu dragão e torná-lo dócil para curvar-se e dizer "bom dia, senhorita!".

Evitando

Estou evitando novos problemas porque os que já adquiri ao longo da vida estão se mostrando suficientes até hoje. É mesmo uma coisa muito bonita essa de aprender a ficar satisfeito com o que você já tem.

Erupção nas Nuvens

Começou aquela garoa fininha. As mulheres recolhiam suas cangas da areia; algumas davam gritinhos e corriam. Os homens retiravam suas crianças da água e fugiam. Todos saíram da praia quando os respingos começaram a cair. Ignorei-os e permaneci ali sentado; não havia açúcar em minha pele e eu nunca fiz uso de cigarro. Agora, estávamos apenas eu e o gigante cinza-azul do mar. O céu antes anil, enfureceu-se, condensou e enegreceu de raiva contra minha petulância de permanecer ali para contemplá-lo.

Eles não presenciaram o que veio a seguir. O medo irracional do inofensivo lhes privou do privilégio que minhas retinas contemplaram. Pois a um dado momento, o sol furou as nuvens em vários pontos projetando-se no mar, e então, cada gota da chuva que caía abrigou em si uma miniatura do astro em chama; cada pingo transmudou-se em lava incandescente precipitando-se do ar. Espetáculo! Erupção nas nuvens; fogo chovia dos céus e me refrescava. Todo o mar era ouro derretido. Laranja, ouro, fogo! Naquele dia eu fui lavado com fogo. Abri a boca para o céu e bebia lava, e engolia fogo. E todos os covardes que almejavam, sem esforço, pela luz do sol, perderam o privilégio de serem banhados de forma líquida por ele.

Aprenda esta lição, caro leitor: os que fojem ao menor respingo da tempestade perdem o privilégio de se banharem com o sol especial que ela esconde. Ao invés de impedi-lo, são as próprias densas nuvens que se transformam no prisma natural através do qual ele irá se revelar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Eternidade ou Vagem Suína

Diz a Bíblia que Deus "pôs a eternidade no coração do homem" (Eclesiastes 3:11).

Isso explica porque você se sentirá frustrado ou decepcionado todas as vezes em que tentar se preencher com qualquer coisa que não possua um selo de eternidade embutido - o vazio que se experimenta no ápice da satisfação dos seus prazeres mais particulares/secretos, aquele peso esmagador na consciência depois do final de semana de "pura curtição", um senso de amargor estranho no coração mesclado com sentimento de culpa. Ora, é frustrante não obter o que se deseja, especialmente se o desejo natural (que não compete a você decidir e não lhe é possível controlar) é por algo infinto enquanto eu me esforço por satisfazê-lo, como disse Jesus, com "as vagens que os porcos comem".

Já com as vias de relacionamento com Deus, baseadas nas coisas mais simples como a leitura da Bíblia, o louvor e os momentos de oração; há um sentido de plenitude inefável que se sobrepõe ao vazio e à frustração, "pois", como afirmou o sábio Salomão, "sabemos que tudo o que Deus faz durará eternamente" (Eclesiastes 3:14).

Você deveria investir mais do seu tempo no que possui esse selo imperecível.

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Tudo o que não é eterno, é eternamente inútil. (C. S. Lewis)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O que Deus Não Perdoa

Eu estava fuçando alguns livros na biblioteca. Puxando aqui e acolá alguns exemplares. Ela entrou com passos apressados e veio na minha direção pelo corredor, entre as estantes. Não me disse bom dia ou outro cumprimento formal, mas parou diante de mim. Olhei sua expressão e parecia-me em profunda angústia emocional. Fiz que não havia notado para não constrangê-la, e sem me virar, voltando para os livros, disse um bom dia animado enquanto puxava um livro qualquer. Ela respondeu com uma pergunta apressada e sem rodeios:

- Oswaldo, tem algum pecado que seja muito grande? Do tipo que Deus não perdoa?
Então entendi. O negócio ali dentro era culpa. Não perguntei o que estava acontecendo, mas olhando para aquele rostinho de sobrancelhas caídas e semblante sobrecarregado, disse com um tom sério, mas amável:

- Existe.

Deu pra ver os olhinhos dela enchendo de lágrimas quando o som da resposta entrou pelos ouvidos e bagunçou alguma coisa lá dentro. Percebi que era a única resposta que ela temia ouvir. Demorou uns dois ou três segundos olhando na minha direção, me atravessando como se eu não existisse. Naquele momento, meio milhão de pensamentos corriam como bestas selvagens na cabecinha dela. Daí a pouco, segurando as mãozinhas, ouvi a segunda pergunta inevitável de uma voz trêmula e bem fraca:

- E qual é?

Com calma, devolvi o livro sobre revolução francesa à estante, pus a mão no ombro dela, apertei com uma força bem calculada e me virei completamente na sua direção, para então responder:

- O maior pecado na Bíblia, e o único que Deus não perdoa... é aquele do qual você não se arrepende.

Mas lembre-se, caro leitor: o arrependimento inclui o abandono do pecado. Como está escrito: "Vá, e não peques mais".

terça-feira, 5 de maio de 2015

Resenha: Perelandra

Perelandra, C. S. Lewis
(★★★★☆)

Cheguei há pouco da viagem no Eustáquio Gomes/Iguatemi - o corpo estava no ônibus e a cabeça em Perelandra. Estou impressionado com a profundidade da compreensão de Lewis sobre o panorama do que alguns teólogos chamam de o Grande Conflito. Apesar de filósofo, Lewis demonstra uma clareza de entendimento incrível de questões fundamentais para a cosmovisão judaico-cristã da origem e desenrolar do tema inesgotável e mais esmurrado desde a literatura medieval: a luta entre o Bem e o Mal; que é desnudado de uma forma extremamente imersiva, mitológica e por isso mesmo esclarecedora.

Perelandra é o segundo volume de uma trilogia de ficção espacial em que Lewis debate sobre esses temas com diálogos estupefantes. O primeiro volume, Além do Planeta Sliencioso, cria um plano de fundo introdutório muito especial. Senti falta daquele poder descritivo de As Crônicas de Nárnia, mas os diálogos me parecem muito mais profundos em Perelandra. Aos amigos narnianos que entenderam as analogias das crônicas, recomendo com força essa trilogia ficcional. Lewis mantém essa caracterítica peculiar de desenhar mundos, gostos e sensações na mente, mas aprofunda muito do pensamento cristão do grande conflito em torno de questões morais primordiais, obediência e a natureza humana contrastada com o não pecado. O leitor é levado ao início dA Queda e pode ter um vislumbre do que havia nas intenções daquela suposta serpente no Éden.

De teor bíblico mais consistente, não sei como o resto do mundo lidou com essa obra, mas não tenho dúvidas do quanto os cristãos a têm apreciado. Com ela, você pode ter uma compreensão bastante enlarguecida do mundo pela perspectiva do tema do Grande Conflito - particularmente, qualquer percepção da vida em geral que desconsidere esse tema me parecerá infantil ou tola. E essa maneira, que chamo de mitologia cristã, tem um poder de esclarecer esses temas complexos que é impressionante.

Fica minha recomendação aos que desejam pensar melhor: bata um papo com Lewis em Perelandra - muito edificante, profundo e expansivo.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Que sorte a minha!

Foi Cristo. Ele nos mostrou quem é Deus. E foi pelo Deus que Jesus me apresentou por quem me apaixonei irresistivelmente. Na verdade, eu só aceitaria um deus que fosse igual a Jesus. Um um ser menos amável, alguém menos compreensivo, alguém menos paciente, qualquer todo-poderoso que me amasse menos, não me serviria. Talvez fosse deus de alguma comunidade pagã, talvez fosse deus para bilhões de pessoas sinceras ao redor do mundo, mas não seria nada para mim. Talvez me recusasse até a aceitar que ele existe - seria ateu convicto. De fato, eu não poderia amar alguém menor do que Cristo.

Confesso que eu nunca seria capaz de amar o deus que me apresentaram ao longo da vida. Se ele existisse, seria medieval, seria bárbaro e infantil. As pessoas me apresentaram um ser assim. Ele seria justo demais para não ser severo em me condenar justamente, pois disso sou digno. Poderoso demais para se aproximar de alguém tão torto sem destruir-me, pois disso sou digno. Grande demais, inatingível, para se importar com uma massa de setenta quilos sem esmagá-la como uma formiga, pois disso sou digno.

É uma verdade. Eu não poderia amar um deus que não fosse igual a Jesus. Mas veja que sorte a minha! Meu Deus, o Senhor é igual a Cristo! E eu não conseguiria não amar alguém como Cristo; eu não resistiria. Mas o meu Deus... Ah, Ele é igual a Jesus! Puxa vida, que sorte a minha! Mas que sorte a minha!

Ninguém nunca viu a Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus. (João 1:18)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Meu Dedo Caiu

Enquanto a multidão O apertava e O comprimia, ouviu-se uma voz em meio à confusão:

- Abram alas e deixem o leproso passar!

Literalmente caindo aos pedaços, o homem que fedia a carniça e tinha parte do rosto putrefato, conseguiu dizer a Jesus: "Pode me limpar agora, se o Senhor quiser".

Tocando com carinho em seu rosto, como se o conhecesse há muitos anos, Jesus disse: "Quero, fique limpo!". E, no mesmo instante, o homem foi miraculosamente curado.

Perguntei a Jesus por que só aquele homem ficou curado, se havia tantos outros doentes no meio da multidão. Lá estavam pessoas orgulhosas, viciadas em pornografia, mentirosas, viciadas em internet, prepotentes, religiosos fanáticos, indiferentes, religiosos relapsos, depressivos, preguiçosos, exibidos, traumatizados de infância, os que sentem prazer em humilhar os outros, e diversos outros tipos de lepra iguais à minha e à sua.

Ao que Jesus me respondeu com aquela voz sempre amável:

- Só ele foi curado porque, de toda a multidão, só ele reconheceu que tinha lepra, enquanto todos os outros continuam fingindo que não estão doentes. Mas os sãos não necessitam de Médico.

Então eu entendi, que nunca serei livre das doenças que me recuso a reconhecer que eu possuo. Assinei meu atestado: eu também tenho lepra. E quando terminei de escrever, meu dedo caiu.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Você é cego

Você ainda não percebeu mas na verdade é cego. É uma verdade dura demais para ser dita de qualquer forma, mas é preciso que seja dita: Você é cego. Ainda não percebeu? As formas que divisa em sua mente não são como você as vê. Você não as vê como elas são. Na verdade, elas são como você não as vê. É triste, Eu sei, mas você é cego, filho.

Ainda não percebeu? Já tropeçou tanto, já estabanou a cara no chão tantas vezes e ainda não percebeu? Você é cego, filho; Não vê um palmo adiante do nariz e continua tentando, e continua caindo. Mas Eu estou aqui para lhe ajudar e lhe guiar porque Eu vejo; Eu vejo você tropeçando, Eu vejo você caindo. Confie na minha voz já que não pode me ver. Eu estou aqui. Você só precisa tirar os dedos dos ouvidos. Ouça: Eu estou aqui, e levo você para Casa, se você me ouvir. Eu estou aqui.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Os olhos que você irá olhar

Eu não diria que você não deve em absoluto preocupar-se com o que as pessoas dizem ou fazem. Assertivas humanas universais me parecem, em algum aspecto, tolice. E sim, você deve satisfação às pessoas com as quais convive (atrase suas contas, viaje sem dizer à sua esposa ou pais, falte ao trabalho ou sonegue impostos, e mais cedo ou mais tarde você vai entender isso). É uma infantilidade difícil de medir, pensar que você pode fazer o que quiser da vida e que não deve prestar contas a ninguém sobre qualquer coisa. Nem a polícia e nem a sua consciência acreditam nisso. Mas é mais sensato dizer que você deve priorizar suas preocupações.

Nesse sentido, você deve empurrar sua preocupação com o que as pessoas dizem ou fazem mais para baixo (às vezes, muito para baixo). Digo isso porque no dia do Juízo, você deverá se apresentar só e despido de todos os amigos, de todos os seus artifícios e desculpas esfarrapadas. Nem o diabo estará lá para lhe ajudar a relembrar os motivos pelos quais o tal pecado "valia à pena". No dia do Juízo só haverá você e Cristo, e é nos olhos dEle que você vai, querendo ou não, olhar e dizer a verdade sobre si mesmo para si mesmo. Os olhos amorosos de Cristo são um espelho para o caráter - eles não mentem. E acredite, quem não confessa a si mesmo hoje, não vai gostar nem um pouco de ouvir o que sua própria consciência terá a dizer naquele dia (não quero dizer que você vai gostar hoje também).

A diferença está em fazer esse reconhecimento hoje para ter um destino diferente amanhã. "Quem não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve", até o abismo serve. Hoje, você pode reconhecer como Lewis: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados.” No entanto, descobrir essas coisas naquele dia, é descobrir seu destino já tendo chegado nele. Será tarde demais para tomar um rumo diferente.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Resenha: Os Quatro Amores

Os Quatro Amores, C. S. Lewis
(★★★☆☆)

A experiência nos mostra que de todas as áreas da vida em que o bom Deus nos pôs a incumbência de administrar, os relacionamentos são, de longe, os mais complexos e também os mais professores. Relacionamentos para Lewis, nesse caso, são amores. Afeição, Amizade, Eros e Caridade, mais especificamente. 

Nessa obra, Lewis apela para seu artifício mais usual de escrita, o senso comum. Jeitos do cotidiano que todos experienciamos, e são bem surrados pela literatura antiga. O livro possui um teor bastante filosófico, mas também muito prático em diversos pontos. Há trechos em que você se pergunta como ele consegue perceber coisas tão naturais de uma maneira aparentemente tão clara quando se trata das maneiras pelas quais nos relacionamos.

Pude compreender melhor muitas das relações que assumi na vida, apesar de não concordar (ou não entender, muito provavelmente) com alguns dos pontos de vista, é uma leitura muitíssimo edificante. Uma característica nas entrelinhas para o leitor, será perceber que acima de qualquer coisa, você é normal. Seus amores não são excepcionais no sentido de serem únicos no universo, porque todo mundo possui amores excepcionais que são, para cada um, individualmente, únicos. A obra aponta para uma maturidade excelente. Lewis apela sempre para um raciocínio claro, baseado no senso comum, e com analogias bastante práticas, como é de seu feitio.

A linguagem não é a mais acessível, talvez por causa do teor filosófico, mas o livro é recheado de boas críticas e referências literárias para exemplificar os tópicos abordados. Destaque para a explanação sobre a Afeição, "o mais humilde dos amores, que me fez amadurecer muito a maneira rudimentar como eu costumava ver "amor" antes de lê-lo. Percebi minha ignorância por nunca haver notado que o amor não é apenas categorizado por nós porque gostamos de classificar as coisas, mas existem tipos de amor porque de fato amamos de formas diferentes. Fiquei menos tolo, nesse sentido. E destaque também para a abordagem sobre a Amizade, no que diz respeito a ser o menos "egoísta dos amores naturais". Geniais!

Uma das coisas que mais gostei, foi ter percebido que não sou um lunático romântico quando sempre pensei em amor como uma simbiose. Descobri que outros loucos muito mais inteligentes raciocinavam assim antes de mim, eu só não sabia que era um tipo de amor diferente e que apontava inevitavelmente para a Caridade (nunca gostei dessa palavra quando a lia em substituição a "amor" em versões católicas, mas agora entendo melhor o motivo desse uso adequado).

Por fim, Lewis amarra todos os raciocínios de amor elaborados para dar-lhes um ápice com as amarras do amor de Deus. É excepcional. Mas não espere uma linguagem apaixonada, nem uma filosofia fria demais. Talvez pareça frio, mas nem tanto. Eu acredito que seja algo mais realista do que racional (no sentido de que pura razão não é a iluminação plena para a compreensão de todas as coisas).

Recomendo pela abertura de mente que o livro pode proporcionar ao leitor, se o fizer perceber melhor suas relações naturais. E o mais importante: a necessidade do amor de Deus em todas elas que as tornem relações saudáveis e bem temperadas, "na medida" (senti falta de uma explanação maior nesse ponto, mas afinal, Lewis não era teólogo e eu tenho uma Bíblia). Em outras palavras, você pode amadurecer um pouco mais com essa joia literária.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quando a gente cai mais fundo que o chão


As pessoas costumam dizer que se você cair, do chão não passa. Quando uma criança tenta subir na rede da casa de praia e a mãe toda preocoupada avisa: "Pedrinho, você vai cair menino!", sempre há aquele avô ou tio mais experiente pra dizer com voz mansa, "deixa" porque "se cair, do chão não passa". Na verdade, dependendo da queda, o chão seria não só uma baixa altitude, como uma superfície bastante confortável para cair. Digo isso porque na vida, existem quedas e quedas.

Conheci pessoas que tropeçaram e caíram mais fundo que o chão. Quando deram por si, havia concreto por cima delas. Eu mesmo já tropecei, perdi o equilíbrio e sem o amparo das mãos, tive de amparar a queda com a cara mesmo. Desmaiei e quando acordei, preferiria mil vezes ter caído no chão. Minha queda foi funda. Atravessei o chão e caí no inferno. Você não deve se espantar, pois como disse, na vida, existem quedas e quedas.

Não vou me demorar sobre a angústia e o desespero que vi por lá. Não é tipo de lugar que você visita e posta fotos no instagram para exibir seu tour com os amigos. Não há filtro que revele beleza ali. Na verdade, não há beleza alguma. É o tipo de lugar que você se envergonha de ter posto os pés e fica sempre se questionando como cargas d'agua você tropeçou e foi cair tão fundo. Algo intrigante nas escolhas da vida, é que você não pode dar um salto de susto e entrar no céu, mas há certos tipos de tropeço que o abatem até o inferno. O que importa nisso tudo, é que eu saí de lá, e vou dizer-lhe como.

Pode parecer estranho, e eu acredito que seres celestiais não entrem naquele lugar nem por bons motivos, mas sei de pelo menos uma pessoa que entrou voluntariamente. E entrou por um motivo que considero duvidoso: eu. Também me parece absurdo, mas Cristo foi no inferno por mim, e me tirou de lá. Sem Ele, eu nunca teria saído. Ou estaria morto, ou estaria morto-vivo, mas estaria morto de qualquer jeito. Não sei até onde chegam essas mensagens que circulam pela internet, mas se houver wi-fi aí no inferno, queria que você soubesse que também pode sair. Se você gritar por socorro, Jesus vai até o inferno por você. Se Ele foi por mim, não acredito que qualquer outro miserável não possa ser resgatado também.

Não importa bem a profundidade da queda ou como você tropeçou. Eu lhe recomendo sair enquanto dá tempo. A gente nunca sabe quando outra mensagem dessas pode chegar, ou se vai chegar algum dia. Mas queria muito que você soubesse disso: se você caiu, Jesus iria até o inferno por você.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sobre a natureza do arrependimento: o que ele não é.


Muitas vezes, quando um homem se vê a lutar com Deus por perdão - como se precisasse convencer-Lhe a perdoá-lo - na verdade, está lutando contra si mesmo por não crer que seu arrependimento seja suficientemente genuíno a ponto de conferir-lhe o direito ao perdão. Não é apenas que ele não acredite na disposição de Deus; é do arrependimento próprio que ele, corretamente, desconfia. Este é um sintoma clássico de uma doença degenerativa chamada justiça própria. 

Nesse estado, o pecador se põe num lugar de deus para si mesmo, julgando a si próprio - ele é sua norma - e só aceitará o perdão que precisa, quando convencer a si mesmo de ter atingido um arrependimento, aos seus olhos, digno o suficiente para ser merecedor do perdão. Ora, isto também é salvação pelas obras e uma maneira mais sofisticada de idolatria. Nesse sentido, há diferentes tipos de divindades por aí, e algumas são mais cruéis do que outras. Como vivemos tempos em que os instrumentos de tortura não participam mais do livre comércio como na idade média, os deuses que habitam essas pessoas se enveredam pela depressão, outros pelo isolamento social e a autocomiseração, e ainda outros pela angústia extenuante. Mas no fundo, são todas formas de tortura, autopunição, com o objetivo de mostrar quão arrependidas estão para si mesmos. Que desastre! É muito ego habitando uma criatura só. E que carência de Graça! Na verdade, toda solução para a culpa que se desvie da graça de Cristo é uma forma de idolatria, pois tem base na justiça própria, e em toda justiça própria, fazemos um deus a nós mesmos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Resenha - A Vida de C. S. Lewis - do Ateísmo às Terras de Nárnia




A Vida de C. S. Lewis - do Ateísmo às Terras de Nárnia, Alister McGrath
(★★★★☆)

Foi a primeira biografia que li, depois dos evangelhos, e comecei muito bem por sinal. Não sei à partir de quando ser leitor de C. S. Lewis se tornou um elogio, mas isso me ocorreu recentemente. Perguntaram-me se eu gostava de C. S. Lewis - na verdade, eu gosto muito do mais do que ele escreveu, mas também gosto dele, ou de quem ele foi - e eu perguntei como sabia que eu gostava, e a resposta foi que quem lê C. S. Lewis pensa de uma forma diferente (no bom sentido).

Quem já tenha lido uma obra de Lewis entenderá o motivo dessa pergunta. Ele consegue explorar a natureza de coisas complexas de uma forma muito clara e genial. Rico em analogias imaginativas que expandem a mente para uma compreensão mais aberta das coisas. E algo que me atrai muito em seus livros: sinceridade.

Nessa obra de muita acurácia, McGrath fez uma varredura acadêmica de precisão analítica, e me levou a conhecer a vida desse personagem que tem me tido muita influência nos últimos tempos.

A proposta é levar o leitor a conhecer C. S. Lewis não tanto por uma abordagem subjetiva, opiniosa do seu caráter, mas pela análise dos temas abordados em suas obras, pelos livros que o influenciaram (muito interessante esse aspecto) e principalmente, pela minuciosa investigação das correspondências de Lewis a seus amigos e parentes.

O autor se propõe a expor C. S. Lewis de uma maneira crua, sem heroísmos, como ele mesmo se expunha em partes de seus livros, de forma que você possa compreender como se deu o processo de conversão deste brilhante ex-ateu, que é hoje considerado um dos autores cristãos mais influentes, e particularmente um amigo. Destaque especial para a análise de As Crônicas de Nárnia, especificamente O Leão a Feiticeira e o Guarda-Roupa, as relações familiares e influências pessoais de Lewis, e a maneira como se deu sua educação formal.

É possível acompanhar todo o crescimento intelectual de Lewis, e onde possível, são dedicadas sugestões que esclareçam pontos críticos de sua vida.

Não recomendo para quem não tenha lido algumas de suas obras principais como Cristianismo Puro e Simples, Cartas de um diabo a seu aprendiz, e especialmente As Crônicas de Nárnia; Mas para quem já as tenha lido, será uma aventura elucidativa e equilibrada.

Recomendo com louvor.

--
Agradecimento especial a Mykaella Araújo pelo presente de aniversário tão especial!

domingo, 18 de janeiro de 2015

Sermão - Inimigos da Cruz de Cristo

Sábado, 17.01.2015
IASD Mangabeiras, Maceió-AL


Texto base: Filipenses 3:16-21


Introdução:

Nos últimos tempos eu tenho sentindo uma grande necessidade de ter um exemplo visível para seguir, que me inspire e me dê um testemunho cristão que fortaleça meu relacionamento com Cristo. De fato, nosso exemplo é Jesus, mas que grande diferença é ter alguém que nos revele com clareza o que é ser cristão! É com tristeza que reconheço estar raro de encontrar.
A época de profunda apostasia que vivemos tem gerado o maior problema da igreja de todos os tempos: cristãos não convertidos. Eles estão lotando as igrejas, mas não fazem a menor ideia do porque estão ali.
Nossos pastores e líderes são hoje instruídos com inúmeras técnicas de crescimento de igreja, e a igreja verdadeiramente têm crescido em número e em propriedades materiais. Mas seriam esses crescimentos evidência de um crescimento espiritual correspondente? Ou seja, tem o Espírito Santo manifestado-se na transformação de pecadores a imagem de Jesus na mesma medida em que a igreja aumenta em número? Se sim, por que permanece a indiferença e a apatia espiritual? Teria Jesus mentido quando retratou Laodiceia como uma igreja espiritualmente “pobre, miserável, cega e nua”, Morna e deficiente em suas obras? Se Jesus disse a verdade, a qual igreja ele se referia quando usou esses adjetivos e disse estar a ponto de vomitá-la?
A verdade é que precisamos aceitar a repreensão do Senhor. A igreja tem crescido da pior forma: estamos abarrotando a igreja de ímpios - pessoas que não tiveram uma experiência de conversão, e que inadvertidamente se acham cristãs, e declarando-se assim, manifestam um péssimo testemunho capaz de repelir os que seriam sinceros em aceitar a verdade. (Ninguém pode avaliar se alguém é ou não convertido, mas não é esse o ponto que desejo abordar aqui - minha preocupação é com o sentido oposto: por que há tantos ímpios dentro da igreja?).
Às vezes, sentimos medo de convidar alguém a fazer- nos uma vista, pelo receio de que testemunho essa pessoa irá receber.
Quem são os culpados? Normalmente apontamos aos líderes. Mas na verdade, os culpados não são os pastores. Somos nós, os membros que formamos essa igreja e que não temos poder do Espírito Santo, ou seja, um caráter semelhante ao de Cristo que reprove o pecado e ame o pecador. Nossa língua é grande, nossos julgamentos severos e cegos para os próprios defeitos, nosso amor é interesseiro e egoísta, nossa utilidade na pregação do evangelho é quase nula, e para muitos, o dízimo é seu pregador substituto.
Se fôssemos cheios do Espírito Santo, não precisaríamos de técnicas de crescimento de igreja, e a verdade da Palavra de Deus vivida e pregada, seria um filtro capaz de reter os sinceros que também anseiam por comunhão, fazendo-nos crescer à imagem de Jesus, enquanto são repelidos os ímpios que desejam utilizar O Reino como um meio de se estabelecerem em uma situação confortável nessa terra.
O número de igrejas cristãs nunca foi tão grande, e ao mesmo nunca vimos uma geração tão má e perversa quanto a nossa (1 Tm. 3:1-5). Uma análise dos reavivamentos históricos, quando a igreja crescia em número e proporcionalmente em poder, nos mostra que sempre que a igreja cresce em espírito, há um impacto significativo na sociedade. A criminalidade, os homicídios, taxas de aborto, adultério e prostituição, consumo de drogas, todos são impactados pela transformação que os cristãos experimentam em sua vida particular.
Em sua época, Paulo enfrentou esse mesmo problema, e até emocionado, escreveu a igreja local em Filipos a fim de corrigi-los.


Filipenses 3:16
  • Paulo exorta seus irmãos a não rebaixarem a norma. Mas andar segundo o que “já alcançamos”.
  • “andemos” - derivado do termo grego que denota alinhar-se em fileira regular, marchar em posição militar, guardar o passo….
  • A vida cristã precisa necessariamente ser crescente. “A única forma de permanecer firme na fé é crescendo”.
  • Não rebaixe a norma, ou será com muita dificuldade, muito esforço e sofrimento que você a porá de volta. Um sofrimento desnecessário.
  • Muitos cristãos sentem eternas saudades do fervor e alegrias que tinham na presença de Deus “no passado”. Olham para trás como se a felicidade fosse ser o que um dia foram e hoje não são mais.
  • Eu te exorto novamente: “No rebaixe a norma”. Uma vez abrandada, é muito difícil pôla de volta no lugar.


Filipenses 3:17
  • Preocupado com a vida deu seus irmãos, Paulo precisou apelar a seu próprio exemplo para que os irmãos não se desviassem.
  • É incrível o poder de influência que exercemos uns nos outros pelo exemplo.
  • As pessoas não aprendem com o que ouvem, mas com o que vêem.
  • Paulo viveu entre eles, deu-lhes o exemplo, um exemplo de vida como a de Jesus, que eles podiam seguramente seguir.
  • Quer salvar sua família? Que sua vida seja uma pregação. Viva o evangelho!
  • O exemplo de Madre Tereza de Calcutá ao pregar na formatura de uma universidade.


Filipenses 3:18
  • Paulo reconhece que mesmo dentro da igreja, há “muitos” (não são poucos), que “andam entre nós” - e ao reconhecer isso, o próprio apóstolo chorou ao escrever - que são na verdade inimigos da cruz de Cristo.
  • Você pode imaginar Paulo, um homem feito, chorando enquanto precisava escrever essas palavras? Inimigos de Cristo dentro da igreja?
  • Por quê inimigos? Por quê da cruz?
  • Quando pensamos em um inimigo, que imagem vem a sua mente? Alguém armado, ou uma pessoa que maquina e deseja o nosso mal?
  • Jesus disse Mateus 12:30: “Quem não é comigo é contra mim”.
  • Essas pessoas, pelas quais Paulo chorou ao precisar reconhecer serem inimigos, não estão armadas em nosso meio, talvez nem desejem prejudicar a Cristo, mas não somam em nada. Não se esforçam para contribuir, e como disse Jesus, se não for por Ele, é contra Ele. Não existe meio termo.
  • Lucas 9:23 - Os inimigos da cruz de Cristo, são aqueles que estão dentro da igreja, mas não querem atender ao convite do Senhor. Não estão seguindo a Cristo. Estão na igreja e se dizem cristãos por outro motivo, mas saem pelo mundo a dar um mal testemunho do que é ser cristão.
  • “Se alguém quiser me seguir” - a Cruz, é símbolo de morte do próprio eu, de entrega, de abnegação, de serviço pelo outro. Os inimigos a cruz, são aqueles que se recusam morrer para o mundo e ainda querem ir ao céu.
  • Os males que eles causam a igreja: Apatia, indiferença, mal exemplo.
  • Inimigos da cruz não cospem nela, fazem pior: a ignoram.
  • A essa altura você pode estar se perguntando se você mesmo é um inimigo da Cruz de Cristo, e há 3 características que podem nos ajudar a reconhecê-los:
    1. Estão na igreja por interesses particulares, não preocupados com a sua salvação nem a de outros. Pode ser por comodismo, por populismo ou por tradição;
    2. O que elas ouvem dentro da igreja, as mensagens, as repreensões, os sermões, não causam nenhuma diferença prática na sua vida; Escutam a mesma mensagem a anos, mas tem um coração de aço, impenetrável;
    3. Elas não conseguem se reconhecer como inimigas, e não sentem desejo de mudanças pessoais e transformações do seu caráter.


Filipenses 3:19
  • Cuidado com essas pessoas! Sigam o exemplo daqueles que seguem o exemplo de Cristo: tome sua cruz e marche!
  • “O deus deles é o ventre” - só se preocupam com seu bem estar, não há sacrifício pelos outros, não há cruz para levar.
  • “a glória deles é a vergonha” - terrível como os cristãos hoje não apenas não se envergonham dos seus pecados como usam a internet para fazer publicidade deles! Sentem um prazer insensível em exaltar seus pecados e a falta de comunhão.
  • “só se preocupam com as coisas terrenas” - Jesus disse que “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt. 12:34), e pelas próprias conversas você pode notar a espiritualidade de um cristão não convertido. As falas giram em torno do salário, do concurso, da promoção, da roupa de marca, da festa… Não falam do reino, da esperança da vida eterna, das necessidades dos mais pobres. Sua boca lhes condena: “Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”. (Mateus 12:37).


Filipenses 3:20
  • “Mas a nossa cidade” - Paulo agora faz um contraste. Não olhe para esses exemplos de baixa norma, mire mais para cima! Mire nos homens e mulheres simples e de grande fé que lutam por uma vida conforme a vida de Cristo! Eles é que são os cidadãos dos céus. Os que só lutam pela vida aqui, ficarão aqui! “Lembrai-vos da mulher de Ló.” (Lucas 17:32).
  • “De onde aguardamos” - O nosso objetivo! Encontrar o pobre carpinteiro de Nazaré que não tinha onde reclinar a cabeça, mas que detém em si a própria fonte de vida!
  • Renda-se ao poder atrativo de Cristo para viver a eternidade! Tome sua cruz! Hoje a vergonha e o desprezo, amanhã a Glória! Amanhã, Cristo!


Apelo: Apocalipse 22:12


Saia da indiferença, abrace a Cruz de Cristo e marche! “Cedo Ele vem” para recompensar os crucificados com Ele!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Resenha - Homem Sem Amarras - Deixe-o Viver!

Homem Sem Amarras - Deixe-o Viver!, T. D. Jakes
(★★★☆☆)

Como bispo, Jakes escreveu uma obra de conteúdo significativo de alguém com bastante experiência em aconselhamento familiar, e uma mensagem realmente importante. Tendo em vista o número de adultos infantilizados, Jakes impulsiona o leitor a obter uma visão mais madura e sensível da vida. Estimula a um "bar-mitzvá" para a real masculinidade cristã.

Mesmo sendo o tema essencial aos nossos dias, a linguagem não é tão estimulante, apesar de não ser muito cansativa e é acessível. O texto possui pouca fluidez no quadro geral, e é composto por muitas frases de efeito.

De forma geral, é uma leitura bastante reflexiva, e apesar de semelhante, não categorizaria como um livro de auto-ajuda, mas um livro de "ajuda do alto", já que os pressupostos para as reflexões se baseiam em histórias e alegorias bíblicas. O livro é predominantemente homilético - a abordagem que confesso não ser minha preferida - mas ainda assim, bastante edificante.

Recomendo a todo homem que deseja reafirmar ou obter uma visão mais madura da vida como um todo (Jakes apresenta grande experiência de vida a transmitir com segurança), e tem um toque especial para os pais de família que desejam inspirar e dirigir seu lar como sacerdotes viris com bases bíblicas.

Bastante inspirador, é uma boa pedida se o leitor for persistente, e especialmente estimulante se estiver em uma crise de identidade ou uma fase de crise familiar/personalidade/relacionamento. Não possuo críticas quanto a heresias ou ensinamentos bíblicos absurdos, sendo assim, uma leitura de base bíblica relativamente segura.

Destaque às análises homiléticas de Sansão, Davi e claro, Lázaro de Betânia.

Não estaria na categoria dos meus prediletos, mas me foi muitíssimo edificante. #recomendo Emoticon like

Agradecimento especial Evelyn Cavalcante pelo belo presente de aniversário!
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