terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Resenha - O Incomparável Jesus Cristo

O Incomparável Jesus Cristo, Amim. A. Rodor
(★★★☆☆)

Pra você que está pensando em o que fazer nas férias ou procurando um livro edificante, fica essa ótima dica: O Incomparável Jesus Cristo, de Amin Rodor.


O livro tem viés um tanto acadêmico - algo que imagino ser difícil para o Rodor desapegar. Contudo, no prefácio ele defende que a proposta do livro é mais contemplativa à pessoa de Jesus.


O livro tem linguagem acessível, apesar de ainda ser possível sentir uma tendência teológica. Você vai se surpreender com as análises bíblicas à luz dos evangelhos, especialmente de Marcos e Mateus. Provavelmente, adquirirá algumas compreensões mais aprofundadas de certas passagens, de maneira que nunca mais conseguirá lê-las de forma incipiente. O livro também dá bom estímulo a que se façam meditações mais aprofundadas e contextualizadas dos evangelhos em geral, e de certa forma cria uma espécie de vergonha ou constrangimento, pela ignorância e debilidade do conhecimento bíblico que possuímos.

Pelo menos três análises merecem destaque por serem memoráveis: O encontro com Bartimeu, o cego, a Parábola do Filho Pródigo e o diálogo de Cristo com o fariseu sobre quem é o próximo a quem devemos amar (simplesmente genial).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Santo Fingimento

Como todo bom hipócrita, um dos meus objetivos é o de enfim me tornar o santo cristão que finjo ser. Na verdade, eu sei que finjo o tempo todo, e falho a maior parte das vezes até no fingimento (terrível, eu sei). É uma santa libertação admitir a própria hipocrisia. Não preciso esconder de Deus que não sou o que gostaria de ser, mas finjo que sou de propósito, e Ele já sabe.

Finjo amar as pessoas como Jesus as ama, finjo perdoar como Jesus perdoa, finjo aceitar como Jesus aceita, finjo relevar como Ele releva. É pura imitação. Eu finjo tudo! Já fingi tanto, que em muitos casos assimilei meu fingimento como algo inerente à minha própria essência, e inconscientemente passei a acreditar que sou eu mesmo que o faço, e que deve ser algo natural, portanto, fazê-lo.
Não sei especificar quando aconteceu pela primeira vez, mas há um dado momento eu perdi o discernimento para diferenciar se o que faço agora o faço por mim mesmo - se é algo novo para minha essência hipócrita, como um corpo estranho miraculosamente implantado por Cristo para me fazer uma nova pessoa nEle - ou se faço por puro fingimento a fim de ser parecido com Jesus. E quer saber? Essa diferença não importa! Graças a Deus devo fingir a vida toda. Já não perco mais tempo me preocupando se faço por hipocrisia, ou se faço por alguma santa autenticidade excêntrica que estou certo de não possuir.

Vou fingir até que me tornando inconsciente do fingimento, eu assimile a natureza de Cristo como sendo a minha própria, e que por pura hipocrisia deliberada, eu viva como Ele viveu e ame como Ele amou.

Talvez essa hipocrisia de desejar tornar-se o que não é tenha outro nome que eu desconheça. Mas no fundo, o objetivo de todo cristão é fingir: fingir ser igual a Cristo. Eles sabem que não são de forma alguma, mas gostariam desesperadamente de sê-lo. O máximo que conseguem é fingir. Então, prazerosamente vou fingir ser o que não sou até que seja, e já não serei hipócrita.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Comentários #rpsp - Mateus 18

Mateus 18 inicia coma a continuação da perícope sobre escândalos do capítulo 17, onde Jesus especifica sobre as terríveis condenações de quem escandaliza, especialmente, as crianças.

No entanto, desse capítulo, o que mais me prende a atenção está na parábola do credor incompassivo (v. 23-35). Cristo deseja reforçar o que fora respondido a Pedro quando perguntou-lhe até quantas vezes devemos perdoar a quem falhe conosco de alguma maneira. Mais do que uma simples ilustração, é o parâmetro que Jesus utiliza para o perdão nessa parábola que nos choca.

Ele representa a Deus como um rei a quem um dado servo lhe devia dez mil talentos. Uma conversão bíblica direta desse valor é usualmente feita em quilos de prata, o que nos daria o equivalente a 215 toneladas. Em contrapartida, esse mesmo servo tinha alguém que lhe devia cem denários, equivalente em prata a 400 gramas. A comparação que Cristo faz é astronômica.

Para termos uma noção mais precisa dos valores atribuídos por Jesus, podemos converter esses valores em denários, tendo em vista que um denário, era o salário da época para um dia de trabalho. Assim, sabemos que o homem que devia ao servo do rei tinha um débito com ele de cem dias de trabalho. De fato, uma dívida grande, mas com claras possibilidades de ser quitada em pouco mais de três meses.

Já o servo da parábola, devia com dez mil talentos, algo como 126 milhões de denários. Numa conversão direta, seriam 126 milhões de dias de trabalho, ou 345 mil e 206 anos de trabalho. Absurda, não? Mas é isso mesmo! Para pagar sua dívida, ele precisaria de quase 346 mil anos de trabalho em dias ininterruptos, sem férias, finais de semana nem dias de feriado. Esse montante seria o equivalente a 10 mil funcionários trabalhando por 18 anos.¹

Uma das coisas que me vieram a mente quando li essa parábola pela primeira vez foi: Como esse 'cara' contraiu toda essa dívida? A explicação é direta: Essa dívida é minha. Jesus deseja nos dar um páreo vislumbre da dívida astronômica que contraímos com Deus por meio do pecado. Impossível de ser paga.

Cristo nos afirma por meio dessa parábola, que o fato de termos sido perdoados por Deus, nos implica não apenas um privilégio, mas a direta obrigação de perdoarmos aqueles que pecam contra nós. Ele demonstra a covardia de não aceitarmos esse princípio, quando o servo do rei pede para não ser preso, nem ter sua família vendida, afirmando que se for solto, pagaria tudo o que devia.

Jesus diz então que "O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir." Obviamente porque sabia que ele jamais poderia pagar 346 mil anos de trabalho, e nem mesmo vendendo todos os seus bens e a família dele, chegaria perto de sanar essa dívida.

A palavra chave dessa parábola é compaixão. Quando o servo devedor encontrou seu conservo que lhe devia 400 gramas de prata, "agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’". É com essa cena medíocre, de plena ignorância, avareza, e infantilidade que Jesus representa aquelas pessoas incapazes de perdoar. Deus entregou o valor incalculável da vida do seu filho para pagar uma dívida que nós contraímos. É portanto nossa obrigação perdoar as 400 gramas de nossos irmãos. Por maior que possam parecer as falhas das pessoas que te magoaram, comparadas ao que Cristo fez por você, elas não significam nada.

Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir que Deus perdoasse nossas dívidas "da mesma maneira como temos perdoado a nossos devedores", e conclui dizendo "se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês". (Veja Mateus 6:12,14,15).

[1] - Comentário Bíblico Adventista, Volume 5.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Comentários #rpsp - Mateus 17

Três partes me chamaram muito a atenção do #rpsp de hoje (Mateus 17).

1 - Mateus 17:17 - Respondeu Jesus: "Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino".

Talvez, isso seja algo que magoe mais o coração de Deus do que o pecado: nossa falta de fé. Cristo disse literalmente que ele precisa "nos suportar" com essa nossa incredulidade. Em outras passagens, Jesus revelou a mesma reação, ele ficou indignado com demonstrações de falta de fé (veja Marcos 4:39,40). Por outro lado, demonstrava uma alegria radiante quando as pessoas demonstravam fé no poder de Deus (veja Mateus 15:28; Mateus 8:10). Parece que se o pecado lhe entristece, a falta de fé lhe perturba. O coração de Deus realmente fica triste quando pecamos, mas algo muito estranho lhe comove quando somos incrédulos. Talvez porque a incredulidade nos impeça até mesmo de receber o Seu perdão. Como diria Spurgeon: "O ateísmo é algo estranho. Nem os demônios chegaram a este ponto." - Mas nós sim.

2 - Mateus 17:19-21 - É triste perceber que há tantas pessoas a nossa volta que precisam e até pedem nossa ajuda, e não podemos fazer nada para socorrê-las. Não por falta de dinheiro ou recursos, mas simplesmente por falta de fé e comunhão com Deus, oração e jejum.

3 - Mateus 17:27 - É interessante notar que Jesus tinha plena consciência de não precisar pagar tributo algum. Ele é dono da prata e do ouro. Que absurdo seria pagar impostos para outras pessoas por uma riqueza que é sua. Imagine um filho pagando uma taxa para viver na casa do seu pai! Foi essa observação que Jesus fez a Pedro, mas acrescentou que "para não escandalizá-los", ele deveria pagar. Ou seja, os cristãos precisam demonstrar uma fé mais madura ao entender que não fazemos o que queremos sempre, nem mesmo quando seria certo e nosso direito fazê-lo. Na ótica de Jesus, causar confusão desnecessária ou trazer vergonha ao nome de Deus, são danos muito maiores do que um prejuízo financeiro pessoal. Esse mesmo princípio de evitar escândalos, foi vivido e ensinado por Paulo (veja Romanos 14:21). O apóstolo chegou a afirmar que "quem peca contra a consciência fraca do seu irmão peca contra Cristo" (1 Coríntios 8:12). Observe essas palavras fortes de Jesus: Qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! (Mateus 18:6-7). Concluímos que o cristão não faz o que quer, e em muitas situações, nem mesmo se for justo fazê-lo. Fazemos tudo "para por todos os meios chegar a salvar alguns." 1 Coríntios 9:22.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Comentários #rpsp - Mateus 6

No capítulo fantástico do #rpsp de hoje (Mateus 6), um verso me comove lá no fundo. É o verso 36. Diz que quando Jesus olhava para as multidões, "tinha compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor".

O interessante, além de comovedor pela compaixão de Jesus, é que esse verso revela uma resposta à oração de Moisés, milhares de anos antes. Veja por si mesmo: Números 27:17!

Detalhe: Josué, a quem Deus mandou ungir como resposta parcial naquele momento, é o que a teologia chama de um "tipo de Cristo". Ou seja, alguém cuja vida representava de alguma forma a vida do Messias. Uma curiosidade que eu sempre repito, é que o nome Josué, é o equivalente hebraico do nome grego Jesus, que quer dizer "A Salvação de Jeová". Então, na verdade, quando Deus falou a Moisés que Josué seria esse pastor, na verdade ele estava falando em hebraico, o mesmo nome que equivale a Jesus, a nossa Salvação.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014


Em todo o universo há apenas um poder capaz de opor-se a vontade de Deus e até mesmo vencê-la: O seu livre-arbítrio. Mas quando se luta contra O Ser mais amável do universo, a coisa mais inteligente a fazer é deixá-Lo ganhar.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Teoria da Glória Oculta

Teorizo que Cristo oculte sua glória magnificente até uma medida exata a fim de preservar meu livre arbítrio. Digo isso porque acredito que se Ele se revelasse tal como é, não me sobraria outra opção a não ser amá-lo incondicionalmente com cada partícula do que componha minha integridade. Eu holisticamente o amaria. Não haveria célula nem átomo em mim que resistisse a atração de sua glória. Quase que instantaneamente eu irresistivelmente me converteria. E nisso eu também vejo amor: ocultar-se de quem realmente é, para dar-me poder e a possibilidade de negá-Lo se irracionalmente e sem fundamentos eu assim decida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Estou indo para Nashville

A garagem ficou vazia. O vento fazia uivos pelas frestas das janelas que ficaram escancaradas, enquanto a porta da cozinha, entreaberta, rangia de dores pelo óleo ressecado. Havia tocos de carvão espalhados pelo chão, e na geladeira, preso por um imã em formato de barquinho, um pedaço de uma folha de caderno velha e amarrotada da época da faculdade, escrito com pressa e em letra de forma:

- "Estou indo para Nashville e não sei se voltarei. Se voltar, já não serei mais eu. Se não voltar, eu já não mais serei."

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A decisão é sua agora, amanhã não será mais

Chegará uma hora em que você precisará definitivamente tomar uma decisão, não haverá meio termo. Mas o que a maioria das pessoas ignora, é que essa decisão já foi tomada - apenas não pronunciada ainda. Você está decidindo a cada momento (talvez inconscientemente) através das pequenas atitudes e negligências que adota todos os dias. O longo somatório dessas pequenas resoluções ao longo da vida é que decidirá o seu destino final, e então, quando a hora da grande decisão chegar (aquela que você pateticamente imagina poder fazer num futuro desconhecido), será na verdade exposta a escolha de toda uma vida e então tarde demais para mudá-la. Pense bem: a decisão é sua agora, amanhã não será mais.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pesca Abissal

Está escrito nO Livro que a maneira pela qual Deus trata nossos pecados após perdoá-los é lançá-los nas profundezas do mar (Mq. 7:19). Veja que interessante comparação! Mesmo os astrofísicos reconhecem que com todo conhecimento adquirido até hoje, sabemos mais sobre os corpos celestes do nosso sistema solar do que o que possivelmente habita o fundo dos mares do nosso próprio planeta. Em outras palavras, sabemos mais sobre Plutão, o renegado, do que Deus sabe sobre os pecados que Ele próprio apagou.


Há dois mil anos Cristo chamou doze pecadores pescadores de pecados para serem "pescadores de homens". O diabo, no entanto, insiste em ensinar uma modalidade totalmente diferente: a pesca abissal. Repetidamente insinua uma necessidade extenuante de resgatar à superfície pecados afogados pelo amor de Deus e esquecidos nas fossas abissais do perdão. O tipo de pesca mais sem sentido, danosa e infrutífera que uma mente perversa poderia inventar.

Eu só queria fazer-te um pedido ao meio dia de uma sexta-feira de setembro: Jogue a vara fora. Não haverá linha suficiente nesse carretel. Perdoe-se. Se Deus o fez, quem você se julga ser de tão superior para não seguir-Lhe o exemplo?

Agora vá. Deite-se na praia, pegue um bronze e beba água de coco. Depois levante-se e pesque pessoas. Pesque pecadores, esqueça seus pecados. Alguns estão se afogando logo ali.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Comer o Caráter de Deus

Queria compartilhar uma das lições mais úteis e de resultados mais concretos que aprendi no meu relacionamento com Deus esses anos. Considero como revolucionária, apesar de simples e bem conhecida, mas não devidamente compreendida nem aplicada. É revolucionária, não porque o diga, mas o digo por ser revolucionária. Bem...

É bastante comum, ouvirmos em orações ou até sermões, mesmo de amigos muito próximos, o pedido ou a ênfase na importância de se "sentir a presença de Deus". E eu queria dizer-lhe o quanto esse pedido, ou o quanto basear seu relacionamento com Deus nesse quesito, é perigoso e danoso. Se você for cristão, pode lhe parecer herético ensinar a alguém a não confiar no senso da presença de Deus, mas tenha calma, vou explicar.

Acontece que converso com amigos que estão cansados e ansiosos, ou se sentem frustrados na vida cristã, porque lhes parece que Deus não ouve suas orações, ou se vêem distantes dEle. A alegação mais comum é esta: "Não consigo sentir a presença de Deus". E por não sentir, a ideia de um Deus distante, magoado, ou frio parece-lhe a mais óbvia e certa. Mas isso é um erro. Satanás torce por isso, e ensina-o com maestria às pessoas, e porque não dizer, com deleite também.



Não me recordo, em todas as escrituras, de uma só passagem em que nos seja aconselhado a sentir coisa alguma sobre nossa relação com Deus (se você conhecer uma, por favor, me mostre). Há pelo contrário, uma quantidade infinda de conselhos sobre o perigo de confiar nos próprios sentimentos. Jeremias nos deu a clássica advertência: "Enganoso é o coração". "Enganoso", ele disse. Trapaceiro, mentiroso, salafrário, é o coração. Para você, o seu principalmente.

Pense em João Batista minutos antes de ser decapitado, os discípulos quando foram perseguidos e mortos à fogueira, ou Jesus antes de ser crucificado. Não os vejo animados ou alegres por "sentirem a presença de Deus". Muito pelo contrário, os vejo cansados, emocionalmente feridos e muitas vezes tristes. Na Cruz, Jesus bradou que não sentia mais a presença de Deus. Ele se sentiu abandonado. Mas sentimentos não abalaram em absolutamente nada sua confiança no Pai. E nessa confiança eles foram até o fim, até a morte por Ele. Sua relação com Deus baseava-se portanto, em algo superior, algo elevado, algo substancialmente mais confiável do que os sentimentos traiçoeiros da natureza humana, a qual damos tanto ouvidos e tanto nos frustramos.

E agora, eu queria que você tivesse uma noção melhor do quanto esse princípio é importante, e pode revolucionar seu relacionamento com Deus. O que no fundo estou tentando dizer, é que você deve basear sua percepção de Deus, no conhecimento do caráter de Deus, e não nos próprios sentimentos. Na verdade, se você baseia sua relação com Deus no que sente, então você se relaciona apenas consigo mesmo, e tem de lidar sozinho com seus medos, frustrações e percepções errôneas da vida. Outra coisa grave que preciso dizer, é que isso é idolatria. Sim. Você se torna ídolo de si mesmo, porque os sentimentos são seus, e o deus imaginário a quem você serve e confia, é uma miragem abstrata, imagem forjada como reflexo de algum espelho fosco de si próprio. No fundo, você pensa que confia em Deus, mas está enganado. Confia apenas nos seus sentimentos a respeito de Deus, não nEle. "Seus sentimentos". Você, confiando no que sente. Não é muito diferente do fariseu que "posto em pé, orava de si para si mesmo" (Lucas 18:11).

Muitas vezes, Deus me fez não apenas não sentir Sua presença, como permitiu-me sentir sozinho e aparentemente abandonado. Tive que aprender a descansar na confiança de quem Deus é por Ele mesmo, independente do que eu pense ou sinta sobre Ele. Sei que é maravilhoso sentir a presença de Deus, quisera que todos os meus conhecidos desfrutassem dEle. De bom grado, muitos deixariam seus vícios por momentos de oração. Mas quero aqui, enfatizar o perigo e os danos de fazer da sua própria percepção, um parâmetro no seu relacionamento com Deus. Ele não nos ensinou isso em lugar algum. 

No entanto, se você basear seu relacionamento com Deus no caráter que Deus tem, por Ele mesmo, independente de você, desfrutará de uma paz maravilhosa. Afinal, por mais complexas e diferentes que se tornem as circunstâncias, Ele não muda, porque o caráter de Deus é assim, imutável. É sempre o mesmo, e sua confiança portanto, não pode ser abalada com facilidade. Isso traz descanso.
Perceba o quanto as pessoas que baseiam sua relação com Deus no sentir a presença dEle sofrem. "Hoje estou triste", "hoje estou frustrado", "hoje estou cansado", "hoje estou com medo". É óbvio que você sentirá dificuldades em sentir a presença de Deus nesses dias. Mas e daí?! Independente do que você sinta ou deixe de sentir, Deus é Deus. Ele não precisa dos seu sentimentos ou percepções para existir. E continuará sendo mesmo jeito que sempre foi a eternidade inteira, quer você sinta, quer deixe de sentir alguma coisa.

A confiança no caráter de Deus muda o jogo. Muda sua disposição para enfrentar a adversidade. Muda você, muda tudo! Na verdade, confiança é depender de outro, e como é emocionalmente cansativo depender de alguém tão volúvel como si mesmo. Se quiser confiar em sentimentos, confie nos sentimentos de Deus, e não nos seus.

Descanso é saber que "estou desse jeito agora, mas Deus continua como sempre foi, mesmo antes dessa tal situação acontecer". "Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vocês [...] não são consumidos". (Malaquias 3:6). "Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente". (Hebreus 13:8). "No sossego e na confiança está a sua força" (Isaías 30:15).

Agora que expliquei o recheio da coisa toda, queria te falar sobre porque não confiamos no caráter de Deus, e preferimos confiar nos próprios sentimentos, endeusando a nós mesmos.

A afirmação que faço é categórica, repetitiva e real: Nós desprezamos a Bíblia. Não confiamos em Deus, porque não O conhecemos, e não O conhecemos porque fazemos pouco caso do que Ele disse de si mesmo. O único lugar no mundo onde se pode conhecer o caráter de Deus como Ele a si próprio se revela é em sua Palavra, mas fazemos dela enfeite para exibir o Salmo 23 na sala de estar. Nem só de pão vive o homem, disse Jesus. E contudo, nossa alma morre de inanição. Na verdade, ler a Bíblia, é como comer o caráter de Deus. É nutrir a mente com as vitaminas da sua personalidade. É fazer parte de Deus, ter simbiose com o Criador.

Como disse um antigo pregador a quem muito estimo: "A Bíblia fala no tom de voz do próprio Deus." C. H. Spurgeon. E que voz maravilhosa Ele tem!

"Que o Senhor nos perdoe o desprezo que temos dado a Sua Palavra." Ellen G. White.

domingo, 11 de maio de 2014

Faça Valer a Pena


Eu me lembro. Não consigo esquecer. Nunca consegui. Era uma quinta-feira quente e mais escura que o normal. Eles invadiram meu barraco. As luzes do farol da viatura machucavam meus olhos, rodavam em azul e vermelho iluminando a imundícia de onde vivi. Jogaram tudo ao chão e quebraram meu lixo. Era lixo, mas era meu, e era tudo o que tinha. Quarenta dias depois, estávamos no tribunal, minha culpa e eu.

Confesso que não tinha coragem de levantar a cabeça. A vergonha era um chapéu de chumbo, pesado demais para mantê-la erguida por muito tempo. Não ouvi uma palavra dos advogados, mas recordo-me bem da voz do juiz: "culpado"! "Culpado", ele disse. Culpado, e ele tinha razão. Condenado à estaca, eu devia ser apedrejado vivo antes de ser pendurado. Não retruquei, não xinguei ninguém, não amaldiçoei, não disse nada. Eu sabia que era culpado e não tentei provar uma inocência que não possuía.



A execução era sumária, portanto, o meirinho segurou-me pelo braço, já fixamente preso pelas correntes. Me deu dois empurrões, e como uma mula de carga, eu entendi o recado. Enquanto caminhava rumo à morte certa, o tilintar das correntes zumbiam como pano de fundo para minha mente cheia. Cheia de nada. Eu vagava entre este mundo e o meu. Não vou dizer que não tive medo. Minha alma estava aterrorizada, mas não conseguia esboçar reação. A certeza da culpa me fazia pensar em justiça, e isso parecia ser uma coisa boa afinal. Aceitei minha condenação, mas nem disso me orgulho.

Com aquele jeito meio pinguim de andar, afinal as correntes aos pés atrapalhavam meus passos, vi outros passos. Passos de um homem alto em minha direção. Já o havia notado entre os que assistiram meu julgamento, mas meu chapéu de culpa me fez desviar dele o olhar, e voltava a olhar para dentro de mim: eu via culpa.

Agora consegui ver seu rosto, e por um instante esqueci-me do tribunal, esqueci-me das algemas, esqueci-me das correntes, esqueci-me até da justa condenação. Quando tentei olhar nos seus olhos (me senti movido a isso), não consegui por mais de um quarto de segundo. Tive vergonha. Ele me parecia diferente, e também familiar. Tentei contemplar aquele homem estranho mais uma vez, e foi quando caí.

Caí de susto quando vi meu próprio rosto no rosto dele. Há poucos instantes era um homem, e agora aquele outro homem era igual a mim. Ele tinha o meu rosto. Não entendi nada a princípio. Minha mente ficou tão confusa que não conseguia me levantar. Coração acelerado, eu respirava como uma locomotiva. Tentei encher os pulmões três vezes, mas o ar não entrava. Aquele homem se abaixou, olhou diretamente nos meus olhos e eu não conseguia acreditar. Era meu rosto que estava no rosto dele! Me arrastei velozmente jogando braços e pernas, recuando de medo por não entender que mágica assombrosa era aquela. Eu suava, minha barriga embrulhou na mesma hora e meu peito ficou frio.

- Quem é você?! O que é isso?!

Foi então quando ele falou. Meu coração acelerado, harmonizou quando o ouvi. "Calma. Estou aqui para ajudá-lo", ele disse. Não entendia como as pessoas ao meu redor pareciam manequins de cera. Nem piscavam. Até hoje não sei o que houve naquela entrada de corredor. Mas suspeito que aquele homem fez parar o tempo.

Ele me pediu o macacão de condenado, e o vestiu por cima das suas próprias roupas. Ninguém diria que aquele homem não era eu. Eu mesmo comecei a duvidar de quem eu era, de tão idêntico ele era a mim.

Ele me estendeu a mão, e quando levantei, o volume da multidão abriu, e o tempo voltou a passar. Ouvia agora as palavras de condenação, os xingamentos, e todo ódio jogado contra o condenado. Não sei como aconteceu, mas nós havíamos trocado de lugar. Era como se eu me visse de fora. Vi toda a fúria da turba contra mim sendo vociferada contra ele. Ainda confuso, consegui divisar que o culpado era eu, não aquele homem. Com o pobre senso de justiça que ainda me restava, tentei avisar a multidão, mas os xingamentos era mais altos que meus apelos. Todo esforço era em vão.

Eles o arrastaram para o pátio. Vi quando um homem baixinho lhe deu uma rasteira, e agora caído com a face no chão, as pedras começaram a atravessar o ar. Eu não quis olhar, então fechei os olhos. Quando os abri novamente, havia muito sangue. Sangue nele, e sangue no chão. Continuaram jogando algumas pedras, mas ele não reagia, só olhava para a estaca. Tentei fazê-los parar, mas inúteis foram meus esforços. Eram muitos, e eles finalmente o penduraram no madeiro.

Eu chorei. Eles haviam matado o homem errado. Eles mataram O Inocente. Deitei-me no chão, lembrei-me de Deus e gritava perdão. Puxava maços de terra, e gritava perdão. Enfiei a cara na areia, e gritava perdão. "Fui eu! Fui eu! Não ele, não foi ele! Não era ele Senhor, era eu!". As pessoas foram embora, e agora restávamos nós dois. O Corpo e eu. O Inocente morto, e o culpado gritante.

Depois de certo tempo perdi a voz. O céu enegreceu e uma sensação de paz estranha habitava minha alma. Comprovei que o choro de fato acalma a alma. Quando gastei todas as reservas de lágrimas, sentei-me no chão, e olhei a estaca. Não havia ninguém lá, ele tinha sumido. Olhei ao redor por cento e oitenta graus duas vezes, não havia ninguém lá. Gelei quando levantei a cabeça. Aquele homem, agora vivo inclinado sobre mim, olhava-me no chão.

Seus olhos eram grandes e profundos, e carregava ainda aquele mesmo semblante pacífico que havia me encontrado na condenação. Tentei dizer-lhe alguma coisa, explicar o mal entendido, e foi quando tentei falar e a voz não saiu que lembrei: havia perdido toda voz gritando perdão.

Ele sorriu, olhou dentro da minha alma como a luz atravessa um cristal, e num tom limpo e amável falou: "Faça valer a pena". Ergueu-me do chão, e quando um ventinho morno me obrigou a finalmente cerrar os olhos antes esbugalhados, ele desapareceu.

(Crônicas Jockeanas)

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Inspiração: "Isso é amor. Pois sendo eu culpado, tomou minha sentença sobre si e me salvou." - (Música: Isso é Amor, Vocal Livre)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Graça aos Miseráveis

Se vai tudo bem com a igreja em nossos dias, então Cristo mentiu quando escreveu endereçada a nós a carta apocalíptica de Laodiceia, e ele não teria razão alguma em dizer que irá vomitar-nos de Sua boca como disse que faria. Mas se Cristo disse a verdade, e somos mesmo os miseráveis que ele disse que somos, onde se esconderam aqueles que lutam e propagam que O Juízo se aproxima, que estamos cegos, pobres e nus diante da prescrutadora justiça perfeita de Deus?

Há uma ira vindoura prestes a desabar sobre nossas cabeças, exigindo a penalidade que nossos atos merecem. Não é tirania de Deus, é pura justiça. Pecamos e somos reconhecidamente dignos da exclusão existencial. E cá nos encontramos: em campo aberto, nus e desprotegidos pelos nossos pecados diante de tremenda e justa tempestade.

Miserável. Repita comigo: Eu sou um miserável diante de Deus. Estou pobre, cego e nu diante da Sua justiça perfeita.

Amigo, corramos para Cristo! Fujamos para nos esconder nEle. Li num livro que "Ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus" (Hebreus 7:25), mesmo o maior dos miseráveis pode encontrar abrigo nEle, mesmo você e eu.
A isso chamam graça.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Experimento Social

Sabe aquelas pessoas que demonstram firmeza absoluta, quase onisciente, que parecem ter resposta a todas as perguntas e criam perguntas para suas próprias respostas, jamais erram mas possivelmente se enganem, tomam em pouca conta qualquer opinião diferente da sua e agem com tamanha soberba como se fossem o modelo de ser humano ideal?

Pois bem, eu gostaria de ver como seria um país inteiro formado apenas por réplicas de pessoas assim. Imagine-a como o cliente e também o atendente do caixa ao mesmo tempo, imagine-a pagando e dando a si mesma o troco do ônibus, como se auto-atendendo no telemarketing, solicitando os próprios dados para fazer seu cartão de crédito, cortando seu próprio cabelo, colocando sua própria gasolina e enchendo os pneus do carro, vendendo a si mesma seu próprio sapato, comendo e servindo sua comida. Imagine-a no país encantado chamado Ego. Ah, que coisa linda! Lá onde o 'eu' reina supremo. Onde todos são perfeitos aos próprios olhos. Eca!


Seria uma beleza, não seria? Não, não seria... Seria o caos, a estupidez elevada a sua enésima potência, o nojo próprio em seu mais elevado nível. No país dos narizes tortos, a grosseria reinaria suprema neste reino soberbo, tolo, frágil e infantil.

Graças sejam dadas a Deus pelas pessoas simples e humildes, sofredoras e simpáticas, pessoas fortes que sustentam o luxo e a insensibilidade dos adultos infantis, que fazem nosso dia mais leve, que são reais, que nos entendem, que respiram o mesmo ar do mesmo planeta e que também sangram. Graças sejam dadas a Deus pelas outras pessoas não serem como eu.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Seja "Macho"



Ser "macho" para o homem atual é:
  • xingar pesado nos jogos do seu time do coração;
  • beber e sair com várias mulheres "gostosas" pra se amostrar com os amigos e depois doar sangue pra saber se contraiu uma DST;
  • -fumar sabendo dos riscos de câncer;
  • praticar, assistir e falar sobre MMA;
  • ter bíceps e peitoral grande pra andar com uma camisa colada (ou sem camisa);
  • ter um carro esportivo pra se exibir pela cidade;
  • ter um equipamento de som potente pra alguma coisa que eu ainda não entendi o motivo, se apenas um fone de ouvido resolveria.

Já ser "Macho" segundo Cristo é:
  • ser gentil com quem te despreza;
  • oferecer a outra bochecha pra quem te deu um murro;
  • amar seus inimigos;
  • se humilhar para beneficiar alguém que te prejudicou;
  • se sacrificar pelas pessoas secretamente e sem desejar recompensas;
  • dominar seus vícios e rejeitá-los em lugar de ser dominado por eles;
  • falar bem de quem te difama e fofoca sobre sua vida;

Bom, acho que qualquer covarde pode ser um "macho" da atualidade. Mas só um homem de verdade, macho mesmo, encararia o desafio de ser "Macho" segundo Cristo.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Rosto

Era uma chuva tão grossa, que os pingos quase machucavam quando se chocavam contra minha pele. Caminhei até um espaço aberto, cercado de destroços, e foi lá que eu vi.

Vi um homem de costas, em pé e com ambos os pés sobre uma poça de lama. Uma luz muito forte irradiava no zênite. Ao seu redor, o mundo se desfazia gradativamente, como a água dissolve a lama presa na bota ou encrustada nos pneus de um carro. Ele contudo, não se movia. Nem ao menos piscava. Carros, prédios, parques, montanhas, ruas e casas, tudo estava a se dissolver.

Esse homem tinha os olhos fixos no alto, pupilas totalmente dilatadas e toda sua constituição física parecia voltada para a luz, como se se alimentasse dela de alguma forma. Ele ignorava todo o mundo destruído à sua volta.

Com o tempo, blocos gigantescos despencando de arranha-céus faziam grandes estrondos ao quebrarem-se no chão. Estilhaços eram arremessados para todas as direções. Havia muito pó, fumaça e destruição para todos os lados que se olhasse. Era sufocante. Mas ele estava lá, em pé, firme a tal ponto, que a princípio pensei que fosse uma estátua. Mas olhando bem, notei vida, muita vida pulsando de sua própria pele. Ar quente fluía dos seus pulmões. Podia-se ouvir seu coração de longe, e ele batia forte, como um tambor de guerra num compasso perfeito. Sua presença parecia criar uma atmosfera pacífica em meio àquele dilúvio de destruição.

Ele parecia divisar alguma coisa muito especial naquilo que olhava porque de tempos em tempos seu sorriso aumentava. E à medida que o tempo foi passando, ele começou a reluzir. A princípio como um bronze polido. Depois era como se sua pele fosse toda de prata. Ele tinha um porte que inspirava nobreza, apesar das roupas em farrapos. Em pé ele estava e em pé permanecia. E sorrindo.

A um dado momento, vi sua pele como feita de ouro. E a luz que por tanto tempo contemplou parecia irradiar dele mesmo, apesar de eu saber que era reflexo. Mas tornou-se um reflexo tão nítido, ao ponto de ele e a luz parecerem ser feitos da mesma substância. Ele disse alguma coisa para a luz, algo que não consegui ouvir direito, apenas um 's' ao final.

Quando falou e refletiu assim, não pude mais vê-lo. E não sei o que lhe aconteceu. O perdi de vista em contraste com a luz.

Curioso e intrigado, fui até aonde ele estava. Entrei na poça. Meus pés descalços sentiram o viscor da lama e a princípio, não entendi o que era aquilo, até ver ao fundo estas palavras escritas à mão e em letras garrafais: HUMILHAÇÃO PRÓPRIA.

No reflexo da lama, eu vi aquela mesma luz que estava agora acima de mim, a cento e oitenta graus completos. Ainda mirando a lama, pude divisar algo como um rosto em meio aquela luz e foi quando abruptamente resolvi olhar diretamente para ela. Levantei minha cabeça até a nuca tocar as costas.

Havia mesmo um rosto em meio a luz, e não era aquele homem, era Outro. Era o rosto mais lindo que já havia visto. No cristalino dos Seus olhos, eu vi galáxias, estrelas muito maiores que o sol, nebulosas de todas as cores e um lugar incrível que parecia meu lar. Não um lar em que já houvesse vivido, mas um que finalmente parecia ter sido feito para mim, e eu todo feito para ele.

Não pude deixar de olhar aquele Rosto. Não queria parar de olhá-Lo. Quanto mais olhava, mais feliz ficava. Senti meus músculos aumentarem e relaxarem ao mesmo tempo. Senti meus pés como pneus gigantes, mas não tive a mínima vontade de movê-los de lugar. Eu só queria continuar olhando àquele Rosto.

Ele sorria para mim! Seu semblante era a paz. Não que tivesse paz nele. Seu rosto era a própria paz de que tanto falamos.

Não sei por quanto tempo fiquei admirando àquela face. Talvez horas, talvez semanas, talvez anos, talvez eras. Esqueci-me do que era o tempo. Mas notei uma silhueta que agora me observava dos escombros. Não quis saber quem era e me esqueci do mundo ao redor. Mantive meus olhos fixos nEle todo tempo. Não havia dor, não havia cansaço, não havia nada. Só eu e Ele.

Desejei ser absorvido por Sua luz, e pudia senti-la pulsando em mim mesmo. Contemplei tanto sua face, que agora parecia que ela estava fixa na minha retina, como quando olhamos para o sol, e seu brilho fica marcado por alguns instantes na visão.

Até que lembrei-me de Seu Nome, e pronunciei como se cantasse para Ele. Queria agradá-lo com todo meu ser. Queria dar-lhe meus músculos, nervos, cérebro, rins e o coração.

E então disse com todo amor que acumulei por Ele ao longo da vida. Meus lábios pronunciaram O Nome que é sobre todo o nome. Sorrindo com os lábios e os olhos, eu disse: "Jesus"! E desapareci.

[JOC; Crônicas Jockeanas]

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Milagres e bochechas molhadas

De repente, Maria entrou na sala e deixou a porta bater atrás de si. Por um segundo, tremi de susto na cadeira. Olhei pro seu rosto, e notei o semblante triste de olhos marejados. Ela fazia força para não chorar, enquanto suas bochechas já molhadas, denunciavam que alguma dor vazava daquele coração aflito.

Eu não disse nada. Ela veio com calma, assentou-se do meu lado e enfiou a cara na mesa. Depois de alguns segundos, que mais pareciam anos, um silêncio sepulcral gritava na sala. Doía meus ouvidos. Eu podia me ouvir por dentro. Continuei segurando O Livro que lia. Meus ossos trincavam, o coração pulsava e o ouvido zumbia. Nada. Nenhum mosquito se atreveu a quebrar o silêncio.

Ela então virou o rosto, e entre os fios de cabelo grudados na bochecha pôs os olhos em mim. Eu só olhava com empatia. Com voz mansinha, ouvi a pergunta:

- Você acredita em milagres?

E eu que não fazia a menor ideia do que dizer, falei sem pensar:

- Você está olhando para um.

Ela sorriu.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O amor de Jesus por mim, é como cuscuz...


O amor de Jesus por mim, é como cuscuz fofinho recheado de legumes no café da manhã. É como andar de bicicleta a favor do vento no pôr-do-sol de sexta-feira na Pajuçara. É como o colo de minha mãe aos sete anos, quando eu ainda cabia lá. O amor de Jesus por mim, é como ir pra praia com minha tia Baixinha e Adônis, o cachorro dela. É como granola de cacau com leite de soja. É como lamber a massa do bolo crua na panela. É como seu primeiro beijo numa virada do ano, com toda aquela expectativa e o nervosismo de nunca ter feito isso antes. O amor de Jesus por mim, é como uma folha de papel A3 em branco e um lápis novo quando você tá inspirado pra desenhar. É como a garrafinha de suco da alfabetização com o cheiro de todos os outros sucos mas o gosto de um suco só. É como aquele sono gostoso depois do almoço de domingo. O amor de Jesus por mim, é como correr descalço na chuva, numa rua de barro em Sonho Verde. O amor de Jesus por mim, é como um copo de farinha láctea, cheio até o topo, e todo meu. É como conversar até amanhecer com sua melhor amiga no aniversário dela. É como ver seu nome na lista de aprovados do vestibular depois de ter perdido o primeiro. O amor de Jesus por mim, é como sol com chuva num sábado pela manhã às nove horas, como tudo brilha bonito. É como soltar bombinha em Gravatá nas férias de São João com todas aquelas fogueiras na rua. É como comer tortilete no natal com as luzinhas da árvore piscando. É como o cheiro do seu irmão caçula quando ele é bebezinho.

O amor de Jesus por mim é...
É que ainda tô descobrindo pra te dizer como ele é. :)
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