terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Você é cego

Você ainda não percebeu mas na verdade é cego. É uma verdade dura demais para ser dita de qualquer forma, mas é preciso que seja dita: Você é cego. Ainda não percebeu? As formas que divisa em sua mente não são como você as vê. Você não as vê como elas são. Na verdade, elas são como você não as vê. É triste, Eu sei, mas você é cego, filho.

Ainda não percebeu? Já tropeçou tanto, já estabanou a cara no chão tantas vezes e ainda não percebeu? Você é cego, filho; Não vê um palmo adiante do nariz e continua tentando, e continua caindo. Mas Eu estou aqui para lhe ajudar e lhe guiar porque Eu vejo; Eu vejo você tropeçando, Eu vejo você caindo. Confie na minha voz já que não pode me ver. Eu estou aqui. Você só precisa tirar os dedos dos ouvidos. Ouça: Eu estou aqui, e levo você para Casa, se você me ouvir. Eu estou aqui.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Os olhos que você irá olhar

Eu não diria que você não deve em absoluto preocupar-se com o que as pessoas dizem ou fazem. Assertivas humanas universais me parecem, em algum aspecto, tolice. E sim, você deve satisfação às pessoas com as quais convive (atrase suas contas, viaje sem dizer à sua esposa ou pais, falte ao trabalho ou sonegue impostos, e mais cedo ou mais tarde você vai entender isso). É uma infantilidade difícil de medir, pensar que você pode fazer o que quiser da vida e que não deve prestar contas a ninguém sobre qualquer coisa. Nem a polícia e nem a sua consciência acreditam nisso. Mas é mais sensato dizer que você deve priorizar suas preocupações.

Nesse sentido, você deve empurrar sua preocupação com o que as pessoas dizem ou fazem mais para baixo (às vezes, muito para baixo). Digo isso porque no dia do Juízo, você deverá se apresentar só e despido de todos os amigos, de todos os seus artifícios e desculpas esfarrapadas. Nem o diabo estará lá para lhe ajudar a relembrar os motivos pelos quais o tal pecado "valia à pena". No dia do Juízo só haverá você e Cristo, e é nos olhos dEle que você vai, querendo ou não, olhar e dizer a verdade sobre si mesmo para si mesmo. Os olhos amorosos de Cristo são um espelho para o caráter - eles não mentem. E acredite, quem não confessa a si mesmo hoje, não vai gostar nem um pouco de ouvir o que sua própria consciência terá a dizer naquele dia (não quero dizer que você vai gostar hoje também).

A diferença está em fazer esse reconhecimento hoje para ter um destino diferente amanhã. "Quem não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve", até o abismo serve. Hoje, você pode reconhecer como Lewis: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados.” No entanto, descobrir essas coisas naquele dia, é descobrir seu destino já tendo chegado nele. Será tarde demais para tomar um rumo diferente.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Resenha: Os Quatro Amores

Os Quatro Amores, C. S. Lewis
(★★★☆☆)

A experiência nos mostra que de todas as áreas da vida em que o bom Deus nos pôs a incumbência de administrar, os relacionamentos são, de longe, os mais complexos e também os mais professores. Relacionamentos para Lewis, nesse caso, são amores. Afeição, Amizade, Eros e Caridade, mais especificamente. 

Nessa obra, Lewis apela para seu artifício mais usual de escrita, o senso comum. Jeitos do cotidiano que todos experienciamos, e são bem surrados pela literatura antiga. O livro possui um teor bastante filosófico, mas também muito prático em diversos pontos. Há trechos em que você se pergunta como ele consegue perceber coisas tão naturais de uma maneira aparentemente tão clara quando se trata das maneiras pelas quais nos relacionamos.

Pude compreender melhor muitas das relações que assumi na vida, apesar de não concordar (ou não entender, muito provavelmente) com alguns dos pontos de vista, é uma leitura muitíssimo edificante. Uma característica nas entrelinhas para o leitor, será perceber que acima de qualquer coisa, você é normal. Seus amores não são excepcionais no sentido de serem únicos no universo, porque todo mundo possui amores excepcionais que são, para cada um, individualmente, únicos. A obra aponta para uma maturidade excelente. Lewis apela sempre para um raciocínio claro, baseado no senso comum, e com analogias bastante práticas, como é de seu feitio.

A linguagem não é a mais acessível, talvez por causa do teor filosófico, mas o livro é recheado de boas críticas e referências literárias para exemplificar os tópicos abordados. Destaque para a explanação sobre a Afeição, "o mais humilde dos amores, que me fez amadurecer muito a maneira rudimentar como eu costumava ver "amor" antes de lê-lo. Percebi minha ignorância por nunca haver notado que o amor não é apenas categorizado por nós porque gostamos de classificar as coisas, mas existem tipos de amor porque de fato amamos de formas diferentes. Fiquei menos tolo, nesse sentido. E destaque também para a abordagem sobre a Amizade, no que diz respeito a ser o menos "egoísta dos amores naturais". Geniais!

Uma das coisas que mais gostei, foi ter percebido que não sou um lunático romântico quando sempre pensei em amor como uma simbiose. Descobri que outros loucos muito mais inteligentes raciocinavam assim antes de mim, eu só não sabia que era um tipo de amor diferente e que apontava inevitavelmente para a Caridade (nunca gostei dessa palavra quando a lia em substituição a "amor" em versões católicas, mas agora entendo melhor o motivo desse uso adequado).

Por fim, Lewis amarra todos os raciocínios de amor elaborados para dar-lhes um ápice com as amarras do amor de Deus. É excepcional. Mas não espere uma linguagem apaixonada, nem uma filosofia fria demais. Talvez pareça frio, mas nem tanto. Eu acredito que seja algo mais realista do que racional (no sentido de que pura razão não é a iluminação plena para a compreensão de todas as coisas).

Recomendo pela abertura de mente que o livro pode proporcionar ao leitor, se o fizer perceber melhor suas relações naturais. E o mais importante: a necessidade do amor de Deus em todas elas que as tornem relações saudáveis e bem temperadas, "na medida" (senti falta de uma explanação maior nesse ponto, mas afinal, Lewis não era teólogo e eu tenho uma Bíblia). Em outras palavras, você pode amadurecer um pouco mais com essa joia literária.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quando a gente cai mais fundo que o chão


As pessoas costumam dizer que se você cair, do chão não passa. Quando uma criança tenta subir na rede da casa de praia e a mãe toda preocoupada avisa: "Pedrinho, você vai cair menino!", sempre há aquele avô ou tio mais experiente pra dizer com voz mansa, "deixa" porque "se cair, do chão não passa". Na verdade, dependendo da queda, o chão seria não só uma baixa altitude, como uma superfície bastante confortável para cair. Digo isso porque na vida, existem quedas e quedas.

Conheci pessoas que tropeçaram e caíram mais fundo que o chão. Quando deram por si, havia concreto por cima delas. Eu mesmo já tropecei, perdi o equilíbrio e sem o amparo das mãos, tive de amparar a queda com a cara mesmo. Desmaiei e quando acordei, preferiria mil vezes ter caído no chão. Minha queda foi funda. Atravessei o chão e caí no inferno. Você não deve se espantar, pois como disse, na vida, existem quedas e quedas.

Não vou me demorar sobre a angústia e o desespero que vi por lá. Não é tipo de lugar que você visita e posta fotos no instagram para exibir seu tour com os amigos. Não há filtro que revele beleza ali. Na verdade, não há beleza alguma. É o tipo de lugar que você se envergonha de ter posto os pés e fica sempre se questionando como cargas d'agua você tropeçou e foi cair tão fundo. Algo intrigante nas escolhas da vida, é que você não pode dar um salto de susto e entrar no céu, mas há certos tipos de tropeço que o abatem até o inferno. O que importa nisso tudo, é que eu saí de lá, e vou dizer-lhe como.

Pode parecer estranho, e eu acredito que seres celestiais não entrem naquele lugar nem por bons motivos, mas sei de pelo menos uma pessoa que entrou voluntariamente. E entrou por um motivo que considero duvidoso: eu. Também me parece absurdo, mas Cristo foi no inferno por mim, e me tirou de lá. Sem Ele, eu nunca teria saído. Ou estaria morto, ou estaria morto-vivo, mas estaria morto de qualquer jeito. Não sei até onde chegam essas mensagens que circulam pela internet, mas se houver wi-fi aí no inferno, queria que você soubesse que também pode sair. Se você gritar por socorro, Jesus vai até o inferno por você. Se Ele foi por mim, não acredito que qualquer outro miserável não possa ser resgatado também.

Não importa bem a profundidade da queda ou como você tropeçou. Eu lhe recomendo sair enquanto dá tempo. A gente nunca sabe quando outra mensagem dessas pode chegar, ou se vai chegar algum dia. Mas queria muito que você soubesse disso: se você caiu, Jesus iria até o inferno por você.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sobre a natureza do arrependimento: o que ele não é.


Muitas vezes, quando um homem se vê a lutar com Deus por perdão - como se precisasse convencer-Lhe a perdoá-lo - na verdade, está lutando contra si mesmo por não crer que seu arrependimento seja suficientemente genuíno a ponto de conferir-lhe o direito ao perdão. Não é apenas que ele não acredite na disposição de Deus; é do arrependimento próprio que ele, corretamente, desconfia. Este é um sintoma clássico de uma doença degenerativa chamada justiça própria. 

Nesse estado, o pecador se põe num lugar de deus para si mesmo, julgando a si próprio - ele é sua norma - e só aceitará o perdão que precisa, quando convencer a si mesmo de ter atingido um arrependimento, aos seus olhos, digno o suficiente para ser merecedor do perdão. Ora, isto também é salvação pelas obras e uma maneira mais sofisticada de idolatria. Nesse sentido, há diferentes tipos de divindades por aí, e algumas são mais cruéis do que outras. Como vivemos tempos em que os instrumentos de tortura não participam mais do livre comércio como na idade média, os deuses que habitam essas pessoas se enveredam pela depressão, outros pelo isolamento social e a autocomiseração, e ainda outros pela angústia extenuante. Mas no fundo, são todas formas de tortura, autopunição, com o objetivo de mostrar quão arrependidas estão para si mesmos. Que desastre! É muito ego habitando uma criatura só. E que carência de Graça! Na verdade, toda solução para a culpa que se desvie da graça de Cristo é uma forma de idolatria, pois tem base na justiça própria, e em toda justiça própria, fazemos um deus a nós mesmos.
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