quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Minha Trincheira Monumental

Faço de Cristo uma trincheira monumental por trás da qual eu me escondo. Nesse sentido, eu admito ser covarde. Covardia da qual em nada sinto remorso, pelo contrário, sonho ser perito nessa arte.

Desejo, não de forma impulsiva, mas proposital, e porque não dizer também com grande esforço, passar a maior parte do tempo escondido nEle. E eis aí a razão pela qual a maioria dos meus próprios amigos mal me conhecem. Na verdade, meus dias mais felizes são os dias em que nem minha família me descobre. E como eles ficam felizes também! Mas tem que ser cedinho. Assim que acordo preciso fazer dessa minha primeira tarefa: Vai! Corre para Cristo e se esconde! Oro para que ninguém me veja. Frequentemente eu fracasso. Sem as etiquetas de Drummond, eu realmente "tiro glória de minha anulação".

A razão para toda essa fuga é um tanto óbvia. Como disse Lispector, sou paupérrimo de alma. Mas nem sempre soube sê-lo. Orgulho é cegueira auto-imune. Experimentei ser "eu mesmo" por algum tempo para descobrir que as coisas que julguei interessantíssimas, eram uma pazinha de plástico e areia do quintal. Fazia morrinhos, e na minha cabeça julgava ter erguido os Jardins Suspensos de Nabucodonosor. Essa coisa de "eu mesmo" é puro besteirol! Coisa de moleque. Eu diria 'coitado' de uma pessoa assim, como eu, e digo: coitado!

Eu não sei explicar, e sempre me senti frustrado das vezes que tentei, mas essa confluência original que há no Filho de Deus, essa singularidade atômica de ser absorvido nEle, ao que chamei de forma pueril e ao mesmo tempo bíblica de me "esconder" (outros chamam de 'estar em comunhão'), miraculosamente me habilita a abrigar nesse meu corpo finito - massa compacta de células em setenta quilos - a assombrosa complexidade de toda a realidade que está fora de mim. Estar com Cristo, pode ser dito uma experiência em variadas dimensões. Minha alma antes vergonhosamente pobre, passa a possuir vasto conteúdo com Ele. Meu corpo vira casca que abriga o infinito. Minha presença fétida e orgulhosamente desagradável, torna-se mansa e serena; pacífica a quem de Nós agora se achega. Uma atmosfera diferente nos envolve. Fico tentado a não desejar conhecer o resto do universo se puder conhecer melhor o Filho de Deus - como Ele é imenso! Não é de se estranhar que João, o profeta do deserto, desejasse diminuir para que Ele crescesse - isso é glória em autoanulação. Ou que Paulo afirmasse ser a morte um lucro se com isso ganhasse a vida que há em Cristo. Ele mesmo comparou as glórias humanas com esterco, tamanha a imensidão do Filho de Deus, "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência"! (Cf. Filipenses 3:8; Colossenses 2:3)

Certa feita vi num filme trágico a morte de um garoto que chegou a essa conclusão pouco antes de sucumbir: "happiness is only real when shared" (felicidade só é real quando compartilhada) - pôs num caderninho e morreu. Quanta verdade há nisso para os que se escondem em Jesus, aquele Carpinteiro de Nazaré a quem foi dito ser "o mistério de Deus" (Colossenses 2:2). Unido com Cristo me torno infinito.

Se meus cálculos estiverem corretos, tudo está em Cristo. Está tudo oculto nEle.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Resenha - Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis

Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis
(★★★★★)


Repetidamente recomendada, inconscientemente citada, essa é para mim, a obra mais relevante de C. S. Lewis. Não sei ao certo porque não escrevi sobre ela antes, mas há tempo para tudo debaixo do sol. Esse livro teve e ainda tem muita importância para mim na maneira como hoje raciocínio a realidade por meio da fé.

Escrita no contexto da segunda gerra mundial, foi elaborada para ser transmitida via rádio a convite da BBC e depois convertida no volume como a conhecemos. Cristianismo Puro e Simples é com certeza uma das obras mais impactantes de um dos pensadores mais brilhantes do cristianismo que atravessou o mundo moderno e chegou a pós-modernidade sem perder em nada da sua relevância. À medida que o raciocínio e a decadência da moral humana avançam, Cristianismo Puro e Simples adquire fluorescência aos ateus questionadores sinceros, acredito que também especialmente aos agnósticos, e fortalece a fé dos cristãos que desejam ter um raciocínio mais consolidado. É um livro de apologética com linguagem acessível a todos os interessados.

Aviso: Os que leram as Crônicas de Narnia, mas não conhecem essa obra, não conhecem também o teor sólido por trás das Crônicas.

Lewis apresenta o cristianismo como o título do livro se propõe a fazer: de forma pura e simples. Sem tomar partido para qualquer denominação religiosa, ou fazer defesas de doutrinas particulares, de forma clara, concisa e brilhante, Lewis aborda os temas mais basilares da religião cristã; a começar pela própria defesa da existência de Deus como uma mente consciente e agente formulador da distinção entre certo e errado, por meio do que os teólogos chamam de "o Argumento Moral".

Enquanto lia, me sentia transportado pela argumentação bastante sincera de Lewis, que antes fora ateu convicto, e agora, rendido à necessidade de admitir a existência do Criador que se revelou por meio de Jesus, explica como sua mente apreendeu a realidade tal como o cristianismo a pode revelar a um ser pensante.

A obra é recheada de citações que circulam hoje pela internet. Além da existência de Deus, aborda também a moralidade cristã, a natureza divina, o pecado e sua fonte original na natureza humana, entre outros temas muitíssimo interessantes.

Destaco o capítulo que posso dizer ter marcado minha consciência como ser humano: "O Grande Pecado". Estava no ônibus enquanto lia. Se você estivesse lá para me observar, veria alguns sorrisos, e depois espantos, e algumas pausas para oração. "Meu Deus, eu sou terrível!", vinha à minha mente. "Meu Deus, esse sou eu". Foi uma experiência inesquecível da qual compartilho até hoje com meus amigos, de tão edificante que me foi entender a raiz de todas as minhas corrupções: o orgulho. De vez em quando você me verá falando ou escrevendo sobre ele, simplesmente porque para Lewis, todo pecado é orgulho manifestado em alguma de suas vertentes. Se você entender isso, vai entender também como orar de forma mais específica, e lutar pela transformação do seu caráter para ser mais semelhante a Cristo. Só por esse capítulo, para mim, a obra toda valeria à pena.

Depois de lê-lo, você deve obter uma visão muito mais ampla da vida cristã; um raciocínio mais mais claro para ter certeza do porquê o cristianismo faz mesmo todo o sentido, e terá argumentos muito mais sinceros para manter sua fé em Cristo. Outro benefício para mim, foi ter sido ajudado quanto ao preconceito com outros cristãos que pensam diferente de mim. Acho que esse livro me ajudou a procurar ouvir melhor, me colocar no lugar do outro pensante e tentar entender o porquê essa pessoa raciocina dessa forma.

Considero uma ótima dica de presente a amigos questionadores, descrentes ou curiosos. Pode render conversas muito mais profundas, apesar de não entrar em méritos doutrinários evitando esse tipo de conflito. Cristianismo Puro e Simples, porque vale à pena entender melhor os conceitos que fundamentam sua fé (ou a falta dela).
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